sábado, 5 de fevereiro de 2005

crônica XXXXVII do "moda almanaque" da uol


crônica moda almanaque XXXXVII

O samba da Gisele

De novo não assisti à todos os desfiles da São Paulo Fashion Week, como os jornalistas de moda daqui do site. É absurdo, errado, fim da picada e tudo mais, afinal sou cronista de um site de moda e esse é o evento mais importante da moda dessa cidade. Nem deveria abrir meu bico para falar nesse assunto.
Mas vou falar só uma impressão. Coisa mínima.
Vi alguns desfiles pela TV, bacanérrimos. Porém me assustei nos dias seguintes com a quantidade de notícias que apareciam nos jornais, revistas e TV. Foi o acontecimento do mês, a SPFW. Fiquei intrigada. Porque esse evento faz tanto sucesso?
Difícil missão, essa de ir a fundo nas raízes antropológicas e sociológicas de um povo e seus hábitos, ainda mais tendo estudado pouco. Mas tive um clic.
Como não pensei nisso antes?
Olha: a SPFW, com esse nome esquisito, americanóide e impronunciável, é o nosso desfile de carnaval. É o sambódromo dos paulistas, gente.
Tudo isso por muitas razões:
Um: paulista gosta de lugar fechado, com ar condicionado. Nas ruas de São Paulo é raro ver alguém “passeando”, à toa. As pessoas sempre estão usando as ruas e calçadas para “ir” ou para “voltar”. Paulistas gostam de ficar dentro de lugares; restaurantes, shoppings, cinemas.
Dois: paulista gosta de andar vestido, ao contrário dos cariocas e baianos, que, acostumados com a praia, o calor e principalmente com o próprio corpo, gostam de ficar meio pelados.
Três: paulista não gosta muito de samba e dança. Todo mundo aqui é mais travadinho. A gente tenta, tem gente que entra até em aula de dança, mas não é a mesma coisa. A coisa não está na alma.
Nesse contexto, aparece a SPFW. Um lugar para ir com convite, com desfiles organizadérrimos, uma passarela toda chic, lugares reservados, modelos bonitas e muitas... (ichi, vão me matar por isso) “fantasias”.
Essa é a quarta razão dessa comparação esdrúxula. As roupas são fantasias sim, gente. Fantasias de grandes estilistas. Olha. Para as pessoas da moda, as roupas desfiladas são “coleções”, mas para nós, mulheres comuns que usam calças jeans com números maiores que 36, “estar na moda” é apenas estar razoavelmente arrumada para circular sem dar vexame. Aquilo tudo é maravilhoso e deslumbrante, mas é tudo... fantasia. Idênticas ou até mais escandalosas do que as fantasias da passarela da Sapucaí. Das mais de duzentas roupas dos desfiles que eu assisti, acho que eu só usaria umas... seis, sete. O resto, só se eu tivesse enlouquecido.
Agora vamos para a quinta razão para provar minha teoria: a Gisele Bunchen. Nessa história, a Gisele é a nossa passista. E quem vai me dizer que aquele modo dela andar não é um tipo moderno de sambinha? A moça dá uma requebrada meio torta e desconjuntada a cada passo, não é? É samba de paulista, ora.
O mais perfeito samba da nossa terra.
Além disso, cada um dos estilistas tem um tema para desenvolver, uma explicação para as alegorias, um cenário, um clima. Tem até a música batucando!
Só acho que a coisa falha um pouco no quesito “animação”, isso é algo que temos que resolver para alcançar os concorrentes. Tirando a Gisele, que ri à toa, as demais modelos são muito bravas e entediadas. Tenho até um amigo que tem medo de modelos. Me confidenciou que tem pavor de pensar naquelas moças esqueléticas, com caras assustadoras, andando rápido na direção dele. “Tão bonitas” - ele fala – “Porque não sorriem nunca?”
Ah, bobagem. Quem se importa com isso, no meio de um desfile de carnaval?

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