sábado, 11 de dezembro de 2004

SEXO VIRTUAL



Sexo virtual
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Alguém precisa falar disso. De laboratórios médicos e exames.
Bom, se você é mulher é um pouco diferente. Além dos exames básicos, tem mais um monte. É que a medicina agora é diferente, é preventiva, mas a gente tem que fazer os exames antes de ficar doente.
Vou contar exatamente como tudo aconteceu. Fui no médico, ginecologista. Ele me examinou e foi preenchendo o receituário, não parava mais. Pensei. Não devo estar bem. Ele me olha, ri. Não é exagero não. É preciso saber como vão as coisas ai dentro.
Peguei as receitas e guardei na bolsa. Fiquei adiando para marcar, seria uma chateação.
Um dia tomei coragem e fui ao laboratório. Uns exames eles faziam na hora, outros eu tinha que “estar agendando”, me disse a moça. Pra tal exame, jejum de três horas, para o outro, oito horas sem beber água. Para aquele outro, você fica sem urinar por 6 horas, nesse daqui, nada de sexo por 48 horas. E nada de creme nem óleos de banho na região abdominal no dia deste outro.
Nos dias dos exames, de manhã, eu nem me mexia. Já embaralhara tudo, me esqueci metade das regras, e achei que era melhor não fazer nada, dentro dos limites máximos. Fiquei sem fazer xixi, sem comer, sem beber nada, quase imóvel. Era melhor nem me tocarem, para garantir.
Cheguei lá com a receita na mão. A mocinha me deu um número, me mandou esperar a minha vez. Ia apitar.
Piii.
A senhora aguarda na sala 2 subindo a escada à esquerda porta vermelha no canto. Já comecei a me atrapalhar. Tudo tem muita instrução, a gente parece barata tonta. Fiquei completamente confusa e burra, pedindo para as mocinhas repetirem cada passo a passo. Uma hora a gente tira só a parte de cima da roupa, em outro leva um potinho para o banheiro, em mais outro tira toda a roupa, coloca o avental e uma pantufa e espera no vestiário sem nada metálico no corpo, depois entra numa sala e só desce a calça, depois aguarda mais meia hora bebendo água sem parar.
Fui obedecendo e fazendo tudo. Tirando um monte de tubinho de sangue, fazendo xixi no potinho e recebendo as instruções para aquele horroroso exame de f. , que, por mais que eles dêem instruções, a gente nunca sabe como fazer na hora que chega em casa. Uma vez o marioprata falou, numa crônica de um livro, o passo a passo dele. Não me lembrava como era, nem qual era o danado do livro, e adiei uma semana para entregar. Também não vou contar mais nada. Não fica bem. Uma moça.
Mas chegou a hora que eu queria contar. Dizem que fazer exame de próstata é horrível. Acredito. Mas exames ginecológicos, juro, é quase a mesma coisa.
Primeiro, aquela mesa. Precisa abrir tanto as pernas da gente? E tão lá no alto? O pior é que o nosso bum bum fica voando, no ar. Não sei se dá para entender a posição, mas que não tem nada embaixo dali, não tem. Nem onde se agarrar, de medo de cair. Daí entra uma mocinha, com um aparelho de plástico que abre e fecha na mão e fala para você: a senhora fica bem relaxada.
Relaxada?
Impossível, mocinha. Mas se a senhora ficar relaxada dói menos. Bom, isso quer dizer que dói de qualquer jeito. Dói mais ou dói menos, mas ela sabe que alguma coisa dói. Então relaxar para quê? Fiquei toda retorcida, gemendo. E ainda tive que ouvir da doutora no fim: escuta, toda vez que você faz esse exame é esse escândalo? Saí dali emburrada.
Passei para um outro. Uma máquina apitava sobre mim, me pesquisando. Tinha que ficar imóvel, parecia que me imprimiam ou me passavam por fax. Deve ser a mesma sensação que sente a folha de papel.
Esperei mais um tempo, lendo revista. Veio a moça, berrou meu nome. Senhora, agora as mamas. As mamas o quê? É, inventaram esse nome agora. Sempre ouvi falar que a gente tinha “peito”. Mas agora é “mama”, e o exame consiste em fazer um belo dum esmagamento do teu peito. Eu, que tenho pouco peito, nunca vi uma coisa igual. Parecia que tinham passado um rolo compressor sobre as minhas “mamas”, coitadas. Ficaram enormes, planas. Tão diferentes, que mereciam mesmo um outro nome. E eu em pé, de braços abertos. Numa pose, digamos, bem ridícula. Tenho certeza que as atendentes do laboratório saem de vez em quando da sala para não cair na gargalhada na frente da gente.
Aí veio mais um exame, esse, olha, a coisa mais esquisita de todos. Entrei numa salinha, veio um doutor. Ele primeiro ficou passando geléia na minha barriga, ultrassonando. Era geladinho. Gostoso. Ele escorregando, aqui e ali, digitando num computador do meu lado. Bem, achei que tinha acabado, ele me deu um papel e me instruiu: limpe o abdômen, vá ao banheiro, esvazie a bexiga e retorne aqui. Voltar? É. Temos (eles tem mania de falar tudo no plural, repara) mais um exame. Interno.
Interno?
Achei esquisito, desconfiei. A mocinha, ajudante dele, me explicou. É um ultra som lá de dentro, senhora. Lá de dentro? É. Teu médico pediu. Bom, voltei do banheiro, esvaziada e intrigada. O doutor sentou, fez uma cara seríssima. Olhei para a mocinha ao lado dele. Minha cúmplice. Foi quando ele pegou uma camisinha, e abriu. Juro! Camisinha de verdade! Colocou num... num... numa coisa parecida com aquilo mesmo. Mas igual um mouse, ligada num fio no computador. O que era aquilo...? E na maior cara de pau, encheu de geléia por cima e me mandou relaxar, de novo. Eu, hein? Fiquei mais dura que estátua. Ele não olhou minha cara, pois era tudo muito profissional. Mexia para lá e para cá, parando às vezes para teclar no computador. Olha, realmente, é muito esquisito. Queria morrer de vergonha daquela relação tão íntima com aquela máquina. Dizem que isso é muito comum hoje em dia, não é? Sexo por computador. Mas essa coisa é nova, e muito mais intensa. Chama-se sexo... com o computador.
Será que ele estava conectado na internet?

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