quinta-feira, 18 de agosto de 2011

o café do são benedito



- É, Maria - eu disse no começo da semana, na hora do almoço, na copa, reclamando de alguma coisa - eu preciso é me benzer....
- Benzer? Não sei se algum Santo te ajuda - ela respondeu, lavando a louça, sem me olhar - olha o jeito que você trata seus Santos, Lúcia. Larga tudo em cima da geladeira, nem liga pra eles, coitados.
Olhei para eles. A Santa Luzia, o São José e o São Benedito estavam cada um virados pra um lado, lá no fundão, super esquecidos. Ixi. A Maria tinha razão. Levantei da mesa e corri para a garrafa térmica de café, enchi uma xicrinha, arrumei o São Benedito bem arrumadinho e dei um café para ele. Os outros coloquei do lado, pedi a benção.
- Café? Vamos ver se adianta... - ela disse, displicente - depois tanto tempo esquecidos, torce para eles ainda gostarem de você.
Quando olhei no dia seguinte, o café continuava lá.
- Maria.
- Oi.
- Esse café do São Benedito, você trocou?
- Não, é o que você colocou ontem.
- Café velho, Maria?
- Ué, tá cheio.
- Mas Maria, tem que...
O João, que estava almoçando comigo, interveio.
- Ô Maria.
- Quê, João?
- Sério que você acha que o santo vai "tomar" o café?
- Como assim, João?
- Acha que você vai chegar aqui e a xícara vai estar... vazia?
- Claro que não, né João.
- E você, mãe? O que acha?
- Não, pô. João, é tipo uma homenagem. Um agrado.
- Vocês duas são muito estranhas. Olha o pobre do Santo, parado na frente dessa xícara, só olhando. Dar café pra uma mini estátua. Que malucas.

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