domingo, 28 de março de 2010

o fim da caixa postal



Gente, atenção. Vamos aprender uma coisa. Não adianta mais deixar recado na caixa postal dos celulares dos outros. Os celulares ainda tem a tal caixa postal, tem como gravar recadinho, nome, mas ninguém chega até lá. É muito longe. É, longe. Demora para você conseguir gravar, e demora mais ainda pra você conseguir ouvir. Depois que os telefones passaram a ter identificador de chamadas, depois que todo mundo aprendeu a passar torpedo, pra que caixa postal? Pra ler um torpedo basta apertar um botãozinho e o recado tá ali, escrito, de modo super facil pra gente ler. Super bacana torpedo.
Hoje em dia a gente tem pressa. A gente aprende assim com as facilidades do mundo moderno. A gente anda super sem paciência, eu acho. Não aguenta mais esperar nada. Eu vejo por mim, eu sinto que a minha pressa tem aumentado muito. Eu não aguento esperar aquelas longas e longas horas para ouvir meus recados da caixa postal, e muitas vezes as mensagens ficam mais de uma semana lá, esperando que eu salve aquelas vozes do limbo. Mas eu morro de preguiça. Ué, se é urgente, pô, passa torpedo. A cada dia eu recebo mais torpedo. Torpedo é um ítem em ascensão. Caixa postal está em baixa total.
Um dia, ano passado, conheci um cara que tem uma voz linda. Uma vozona bacana, parece voz desses locutores de rádio. Tive uma idéia. Pedi pra ele se ele poderia gravar uma mensagem pra mim no meu celular. Oba, ele disse, é pra já. Gravamos e ele falava: "alou, você ligou para a lúcia, ela não pode atender, deixe seu recado". Achei aquilo o máximo. Achei que todo mundo ia comentar. Putis, Que nada. A voz do locutor ficou lá naquele mundo longínquo da caixa postal e ninguém reparava. Até eu esqueci a vozona grossa lá. Porque as pessoas são meio assim como eu: telefonam, e, se a pessoa não atende, desligam e esquecem. Todo mundo sabe que teu telefone fica gravado no telefone do outro, não precisa deixar recado. Parece bobo falar "oi, eu liguei", se tá na cara que você ligou. Uns meses depois, olha só, meses depois, o Zé descobriu a voz do homem, acho que meio sem querer, e falou que era esquisito uma voz de homem no meu telefone. Tá, eu tirei e coloquei de volta a minha vozinha: "oi aqui é a lúcia, deixe seu recado, tal". E agora eu tou de novo lá, naquele fim de mundo inacessível, minguando cada vez mais, louca pra receber um recado, sozinha... Mas o mundo é assim mesmo, vence o mais forte, uns morrem, outros nascem e o torpedo tá ai, bombando. O único problema do torpedo é que você tem que escrever. O legal seria se você falasse e o torpedo se escrevesse sozinho. Calma. A gente chega lá.

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