quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o fim da campainha


Eu e a Bê resolvemos ficar conversando na frente da minha casa. Eu tenho uma varandinha que fica na frente da garagem. Era de noite, e o carro, as plantas e o portão atrapalham para ver a rua, mas notamos que um carro estacionou na frente de casa.
- Chegou alguém, Franka.
- É, chegou um carro, Bê.
- Deve ser alguém que veio aqui na sua casa. O seu filho Chico não estava esperando o amigo dele?
- Se for o amigo do Chico de carro vamos ouvir uma porta de carro fechar "blam" e a campainha vai tocar "dimdom". Vamos esperar.
- Não, Franka, a sua campainha não vai tocar.
- Se for o amigo do Chico vai.
- Não vai, Franka, porque hoje em dia as campainhas não tocam mais. As pessoas chegam na casa das outras e simplesmente telefonam. Ninguém mais toca campainha hoje em dia.
- Nossa, Bê, eu não tinha reparado.
Ficamos em silêncio. O carro lá fora parado, com o farol aceso.
- Viu? A campainha não tocou, Franka.
- É. Não tocou mesmo, Bê.
Nisso a porta da minha casa se abre, de dentro pra fora, e o meu filho Chico aparece.
- Tchau mãe, estou saindo. Meu amigo Kiko chegou pra me dar carona.
- Ah. Tchau filho. Juízo.
Olhei pra Bê.
- Franka, a gente mesmo, eu, você, a gente não usa mais campainha. Por exemplo, quando você vai buscar os filhos na casa dos amigos você toca campainha?
- É, Bê, tem razão. Eu não toco. Eu ligo pra o filho e falo "oi cheguei, saia", ou "oi cheguei, desça".
- O celular acabou com a vida da campainha, Franka.
- É verdade, Bê. Estamos vivenciando o fim da campainha. Pobre dimdom. Um som do passado.

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