Fui descoberta. Estava outro dia lá na entrada do prédio, observando as pessoas estacionando os carros quando ele chegou sorrateiramente.
- Lúcia.
- Oi.
Era o gerente do prédio onde eu trabalho. O nosso concierge, que vou chamá-lo aqui apenas de R.. Outro dia pensei em dar para ele a crônica da revista Morar onde falo dos concierges, mas desisti pois ele estava de férias. Ele se aproximou de mim e falou bem baixinho. Seríssimo, cochichando.
- Descobri tudo sobre você.
- Hã? Como assim?
Nossa, que susto. Parecia que eu tinha cometido um crime. Ele continou mantendo o clima de mistério e sussurrou.
- A sua identidade secreta, Lúcia.
Disfarcei. Ele poderia estar blefando.
- Do que você está falando? Não estou entendendo nada.
Ele riu de lado. Notei que ele realmente sabia da Franka, mas continuei negando.
- R., o que você descobriu?
- Ora, o "frankamente..."! E li tudo que você já escreveu sobre o nosso prédio, sobre os médicos, sobre os pacientes, sobre o café Freud, sobre mim.
Céus. Por essa eu não esperava.
- R., e você... e agora? Bom, gostou?
- Claro - ele respondeu, animado - mas escute Lúcia... eu acho que temos que manter isso em total segredo. Para você poder escrever sobre todos e não perder a espontaneidade. Fique tranquila que eu não vou contar nada para ninguém. Isso ficará entre nós e entre...
- E entre quem...? Quem mais sabe?
- Olha, quem sabe sou eu, a Beth do café e os porteiros. Todos adoraram suas crônicas e combinamos de não contar nada.
- Você... a Beth e os... porteiros?
Gente, que engraçado isso. Me senti o próprio Batman, com o Alfred escondendo a minha verdadeira identidade e minha bat-caverna.
- É. E olha, eles disseram que se você quiser, pode até colocar uma foto deles no blog.
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