quarta-feira, 20 de agosto de 2008

plá, pá, plof, pá, plá


Aconteceu antes de ontem. Fim de tarde, eu e a M. aqui no escritório. Eu fico separada dela por um biombo de vidro com uma persianinha, mas aqui o espaço é pequeno, uma salinha apenas, e aquele biombo não divide é nada, estamos praticamente juntas e coladas. Era fim da tarde e aqui em São Paulo está o maior calor, quando de repente ela dá um berro altíssimo, estrondoso, eu quase caio da cadeira. Antes que eu possa entender qualquer coisa, ela dá um pulo da mesa, corre para os interruptores e apaga todas as luzes. Ficamos iluminadas somente pelas telas do computadores. Logo em seguida, eu ainda muda e estatelada sem saber o que se passava, ela pega um pano de chão no banheirinho e começa a bater nas paredes, nas mesas, nos armários, dando uns berros desesperados, feito um espanador de pó com TPM. "Aiii, eles estão entrando", ela grita, "aiiii!". Imediatamente ela corre, fecha as janelas com força e reinicia a dança estrambótica com o pano, desta vez batendo nos vidros e falando algo como "sai, sai, sai", sendo que, com tudo fechado, no escuro e apanhando daquele modo, era impossível qualquer coisa sair viva dali.
- M.? Tudo bem? - Arrisquei, pensando se deveria fugir dali ou dela.
- Os malditos mosquitos de luz! São cupins, olha quantos, quantos, quantos! Entraram!
Pá, pá, plonc, plá, ela batia com fúria, plá, pá, clenqui.
- Ai, virei o copo de suco. Droga!
Olhei a redor, mas estava escuro e não vi nada. Mosquitos? Cadê? Percebi uma coisinha voando diante da minha tela. Um mosquitinho daqueles de asa grande, que ficam nos postes. Só haviam duas luzes no escritório, a dos micros, e claro que eles iam ficar ali na frente. Tive medo dela espancar meu laptop e resolvi não me mexer. Foi quando aconteceu uma coisa engraçada que só acontece quando você está em dois. Acho que se eu estivesse em casa, sozinha, eu ia me incomodar muito com aqueles mosquitos. Não gosto muito de insetos em geral. Mas ali, diante do desespero dela, eu mudei de personalidade no mesmo momento. Fiquei corajosa e valente. "Ora que bobagem. Uns mosquitinhos de luz, M. Já vão embora, esqueça, que exagero", eu disse, impassível, destemida e dando de ombros. Juro, naquele momento eu era capaz de aguentar uma nuvem de mosquitos, abelhas e moscas sobre meu corpo e até sorrir. Virei "aquela que não liga pros insetos". É, em dois sempre tem essa coisa meio yin-yan. E ela passou a me olhar com admiração enquanto batia a esmo nas paredes, exterminando até os fantasmas dos poucos mosquitos.
- Sério que você não se incomoda, Lúcia? Nossa.
Ponto pra mim. Respirei fundo, confiante, cheia de mosquitos ao redor
Ontem quando eram cinco horas ela fechou tudo e ligou o ar condicionado.
Eu fingi que não vi.

Nenhum comentário: