Não sei se gosto muito de finais de semanas. Sempre quero torná-los diferentes mas nunca consigo, o que me causa uma enorme frustração. Não tenho muito planos para a minha vida, mas para os finais de semana eu tenho. Vou arrumar aquela estante embaixo da TV do quarto, vou comprar travesseiros novos pois os meus já estão com aspecto de pizza de tão amassados, vou comprar um capacete para andar de bicicleta no parque Vila Lobos, vou lavar o carro e comprar um biquini novo. Vou fazer um jantar bacana para os amigos, vou no cinema ver uma estréia, vou ao teatro, nossa, adoro teatro. Mas além do problema do meu sono - eu durmo muito gente, eu durmo excessivamente demais gente, eu durmo sem precisar dormir, putis preguiça que eu tenho - tem a cozinha, a sala, o almoço, a louça, o telefone, os seriados bobos na TV que sempre pego pela metade. Acabo acordando tarde demais, olho a cozinha naquele estado por causa da hecatombe dos jovens na noite anterior: melhor lavar, como fazer um café se não tem sequer um espaço no fogão? É preciso também recolher as roupas e sapatos dos filhos da sala ralhando com eles, arrumar e afofar o sofá que afunda porque é velho e roto, é preciso abrir as setecentas portas trancadas da casa (depois de um assalto moro numa cadeia), é preciso tomar um banho por favor dona Franka, é preciso pegar os jornais lá fora e tirar dos plastiquinhos, é preciso jogar os plastiquinhos fora, meu Deus, é preciso ler os jornais, afinal dona Franka, a senhora precisa se informar sobre o mundo. Escolho alguns cadernos da Folha, outros do Estadão, consigo fazer o café e surgem os filhos esfomeados de pijama e pantufas, a comida se espalha pela mesa recém arrumada, já são quase meio dia, a bagunça voltou subitamente, não li jornal nenhum e passo a recolher tudo de novo, louça, louça, copo, embalagens, ixi, lembro das camas, ei meninos, vamos arrumar as camas, ei gente, vamos ajudar aqui a mama de vocês? Toindo, toindo, toindo, ahã. Incrível como jornal se espalha pela casa, e depois dos almoços no Senzala ou no clube não resisto, exausta e sento no sofá afundado para ver aquelas comédias inúteis na TV (agora de LSD, uau), olha dona Franka, já está quase anoitecendo e você não fez nada. Toca o telefone e eu me perco mais falando bobagens para minha irmã, minhas amigas, minha mãe. Incrível como a bagunça da casa se faz novamente do nada a cada uma hora, como assim, quem deixou esse pote de pipocas aqui, ei gente, dá pra abaixar o som de computador ai em cima, o que, não é possível, já está passando Pânico na TV e vocês estão assistindo essa baboseira de novo? Nossa, adoro segundas feiras.
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