terça-feira, 15 de julho de 2008

a galinha da ângela



A Ângela foi para o sítio. Ela, meu sobrinho, coleguinhas do sobrinho, cachorro. Um certo dia encontra um senhor vizinho na estrada.
- Passei na sua casa, Ângela, você não estava. Deixei lá dentro uns ovos, leite, queijo, uma galinha, verduras. Aproveitei cortei um pouco de lenha pra você.
- Nossa - ela agradeceu - obrigada, puxa, obrigada.
Saiu dali com as crianças, mas a cabeça dela só pensava numa coisa: "Meu Deus. Galinha. Galinha. Galinha. Esse homem me deu o que mesmo? Uma galinha. Será que está viva? E o que eu faço com uma galinha?".
Chegou em casa e olhou para a bancada da pia. Ovos, leite, queijo, verduras, lenha e... a galinha. Estava sem penas, mas ali sobre a pia ela via o corpo todo da ave, com cabeça, pernas, pés. Com um monte de coisas para fazer no momento com as crianças, banho e jantar, resolveu pensar naquilo depois. Colocou num saco plástico e enfiou na geladeira.
No dias seguinte, quando acordou, lembrou.
"Nossa, a galinha. O que eu faço com ela? Não é possível que eu não saiba fazer uma galinha, afinal que tipo de mulher eu sou?".
Na verdade, entendo a Ângela. Sabemos fazer um monte de coisas diferentes, como atualizar anti-virus e usar pen-drives, mas galinha é algo muito mais complexo e fedido. Mas como não queria decepcionar o vizinho e as crianças, resolveu colocar a mão na massa. Tirou a coitada da geladeira e olhou para ela: cabeça, corpo, pés. Será que tinha tudo que tem dentro de uma galinha? Revirou de cá para lá e não notou nenhuma "cirurgia". "Ixi. Tem", ela pensou. "E como eu não sei limpar, vou fazer com tudo dentro". Colocou numa tigela, temperou e foi dar um passeio com os meninos, lembrando a toda hora que tinha que resolver aquilo.
Na volta resolveu simplificar. "Vou ferver a galinha", decidiu. "Galinha en-so-pa-da". Colocou na água, tapou e tentou esquecer. Depois de um tempo, voltou, abriu a tampa devagarzinho e viu a galinha com as pernas completamente abertas, escancarada, toda torta, e em volta umas coisas que pareciam umas moelas boiando. O cheiro péssimo.
Não dava mais. Desistiu.
- Meninos, já voltou.
Pegou a panela com tudo dentro e levou para uma vizinha. Morrendo de aflição.
- A senhora me ajuda, por favor. Olha pra isso.
Bom, a vizinha desfez o estrago, rindo, cozinhou e, no final da tarde ela viu a mulher voltando. "Não, ela está voltando de novo, a galinha de novo, não!" Segundo ela, as crianças comeram e disseram que estava bom, mas ela não teve coragem pra tanto. Perguntei ao meu sobrinho o que ele achou da galinha.
- Tia, depois que virou comida ficou gostoso, mas minha mãe quase estragou tudo, pois deixou ela toda morta, espedaçada, horrível.

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