segunda-feira, 31 de março de 2008

peeling oh oh oh peeling


- Você tem que fazer também, Lúcia. Olha. Sua pele tá toda manchada.
- Eu? Fazer o quê?
- É um tratamento, um tipo de peeling, Lúcia. Olha minha pele como melhorou. Fui numa esteticista bárbara, italiana, naturalíssima. Quem me levou foi minha amiga atriz, aquela da Globo. Hoje em dia o négócio é tratar a cara. Peeling na cara já. "Caras peeling". Caras, plim, plim, coisa da Globo, super chique e...
- Mas Ângela, eu não... - argumentei com minha irmã.
- O único problema é a vergonha de sair. Porque quando você marca eles perguntam: "que horas que você quer sair?"
- Hã? Hora de sair de onde? Por quê?
- É que Lú, bem... tem que sair de máscara de lá da clínica da italiana. Depois do tratamento, tem que ficar com uma máscara na cara por seis horas. Ou seja, tem que vir com ela pra casa... é meio mico, mas vale a pena.
- Sair... de máscara?
- Sim, sair de máscara, descer na rua de máscara, guiar de máscara até em casa.
- E... - eu perguntei, pensando que nunca-jamais faria aquilo - e que cor que é essa tal de "máscara"...?
- Amarelona. Horrível.
- Você saiu do consultório da esteticista de máscara amarela na cara?
- Sai. Nossa, que vergonha.
- E onde é?
- Putis, péssimo. É num puta prédio de escritórios e consultórios, esse é o problema. Todo mundo entrava no elevador e quase gritava de susto. Menos a ascensorista, ela me disse que estava acostumada. Diz que tem cara de terno que sai assim. Eu fiquei firme, olhando pra o nada, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Mas Ângela... e dai você guiou assim até...
- O pior não foi dirigir, Lúcia. O pior foi no estacionamento, imagina dar ao papelzinho pros caras na cara dura (literalmente), passar no caixa, esperar o carro... tudo daquele modo, com aquela cara... óbvio que todo mundo quase grita e depois ri baixinho...
- Amarelona. Hahaha.
- É.
- Cheguei em casa, meu filho começou a berrar. "Mãe! Que é isso?". O pior é ele tava com um amiguinho. Eu dizia "calma, Luiz, calma, a mamãe está só fantasiada de palhaça, calma". O amigo disse que entendeu, que era uma fantasia, que eu estava idêntica ao Frankenstein, que ele conhecia bem o Frankenstein. Ah, porque tem mais uma coisa. A tal máscara amarela, depois de um tempo, fica verde.
- Verde?
- É. Mas a noite o Luiz disse que eu tava assustando ele muito, tadinho: "ô mãe, agora chega, tou ficando com medo, tá de noite, você de monstra...".
- Ângela, vale a pena?
- Vale, claro, olha minha pele, Lúcia. Depois de um dia o rosto fica vermelho e depois descasca tudo. Teve um dia que eu fui buscar o Luiz na escola a pé, estava a maior ventania, e, acredite, eu descascava tanto que voava pele pra tudo quanto é lado. O Luiz achou horrível, disse que eu estava me desfazendo. Olha. Vou te dar o cartão da italiana, tenho aqui na bolsa. Você tem que ir lá, Lúcia. Tem-que-ir.
Céus.

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