Sentamos no restaurante, eu, o Zé, a Drake, um amigo.
- Vocês vão beber o que?, perguntou o garçon.
Eu e ela dissemos, quase juntas.
- Vinho.
O Zé e o amigo preferiram outras bebidas, e o cara colocou na nossa frente um cardápio menor, só de vinhos, pra a gente escolher.
- Nossa, Drake. Olha pra isso. A quantidade de vinho que tem.
- E sem os rótulos - ela comentou, rindo.
- Como vamos fazer?
A questão, gente, é que eu, ela e a Bê aprendemos a escolher vinhos de outro modo. Jamais pelo nome num cardápio, ora. Inventamos, depois do convívio e das nossas viagens, a "interpretação rotular de vinhos", e desde então, impossível escolher um vinho sem ela.
A interpretação rotular.
A interpretação rotular consiste num ritual que, para nós, se tornou especialíssimo. Não temos a menor dúvida da nossa capacidade de enólogas para fazer a escolha certa para aquele momento. A escolha de um vinho, para nós, depende do momento que estamos, do assunto que andamos falando, do acaso, da promoção do supermercado, das conversas anteriores e, claro, do rótulo do vinho. A interpretação rotular pode ir por três lados: ou pelo desenho existente no rótulo, ou pelo nome do vinho ou pelo "conjunto da obra". Assim descobrimos vinhos sensacionais, como o Ventus, como o Emiliana, o Rendeiras, o Versus e inúmeros outros. Sempre dá certo, e depois da escolha, sentimos que o vinho era perfeito para a ocasião. Mas ali, diante daquela lista sem rótulos, ficamos completamente perdidas. Na maior escuridão. Céus.
- E agora?
Foi uma escolha às cegas. Fomos eliminando pelos nomes, confusas.
- Vamos nesses que são misturas de uvas. Estamos com a mente muito misturadas com esse monte de nomes desrotulados - ela sugeriu.
Super inteligente, a Drake.
- Acha que devemos ir à adega do restaurante?
- Vão nos achar muito estranhas - ela disse - explicar para o garçon a essa hora da noite o que é a "interpretação rotular"?
Suspiramos e escolhemos.
Não me recordo do nome do vinho, mas quando ele chegou e vimos a imagem no rótulo, sossegamos. Era razoável. Uma paisagem com montanhas ao fundo. Um nome interessante.
- Que acha? - ela cochichou baixinho, para o garçon não ouvir, antes de beber.
- Passa.
- Mas da próxima vez...
- Teremos que ir na adega. Não adianta.
É. Ser enóloga de interpretação rotular é fogo, gente.
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