segunda-feira, 13 de agosto de 2007

fazendo anexos


Tudo volta ao normal e não vou falar das trevas que vivi nesse blog na semana passada. Vou é falar de uma frase que li no jornal hoje de manhã numa entrevista que o Paulo Mendes da Rocha, meu professor e amigo, deu para a Folha de São Paulo.
O Paulo vai lançar um livro com as mais recentes obras dele amanhã, na FAU Maranhão. Eu já vi e já ouvi falar do livro porque tanto o Zé como alguns dos meus colegas arquitetos fizeram alguns dos projetos junto com Paulo. Além disso o livro é organizado pela Rosa, que também é minha amiga. É um livro muito bacana, como são bacanérrimos a obra do Paulo e o modo que ele pensa a cidade e a arquitetura. Fico emocionada de ouvi-lo e até hoje me espanto com as coisas que ele diz.
Pois hoje no café da manhã eu li essa entrevista e achei uma frase. Para mim achar uma frase é demais, sou tarada por achar frases. Tenho um caderninho na bolsa só para elas. Todo mundo conhece meu caderninho. Às vezes, depois de horas nas conversas com minha amiga Sílvia, não surge frase nenhuma. É frustrante. A gente fica hiper decepcionada, sempre nos despedimos sem graça. "É, hoje não rolou nada", ela me diz.
Mas não é fácil achar frases e não é qualquer frase que se acha. Uma verdadeira frase é aquela que fica retumbando na sua cabeça feito música o dia todo. Além disso, a frase não precisa, necessariamente, ter a ver com o contexto de onde ela veio. Aliás, a graça é essa, não sei se me faço entender. O bacana é achar uma frase num contexto e ela servir para outro. Feito essa da entrevista do Paulo.
Ele falava sobre anexos de prédios. Estava defendendo os anexos, pois já fez diversos. E no final do parágrafo, ele diz. "Em vez de você ficar deformando um prédio, faça um anexo".
Nossa. Fiquei impressionada. Mas é claro. Gente, pensa. Muitos prédios na cidade estão prontos, finalizados, completos. As vezes queremos inchá-los. Enfiar lá dentro funções, pessoas, atividades, salinhas, compartimentos. Puxadinhos pra cá, puxadinhos pra lá. Ele falava de arquitetura, mas eu entendi que isso serve também para muitas coisas na nossa vida. Quebramos a cabeça para redividir o nosso espaço interno, queremos que as estruturas que montamos caibam toda a nossa ânsia de futuro, todas as nossas paixões, todas os nossos desejos , mas às vezes não é ali que o futuro deve acontecer. Muitas situações na vida tem impossibilidade de ampliação e estragamos tudo com a deformação. Com os puxadinhos. É a hora de entender o anexo. É como ele diz, o Paulo. O anexo não copia, o anexo completa. E assim como é preciso entender o anexo na arquitetura, é preciso entender o anexo na vida. Eu li aquilo e descobri que sou a rainha do anexo. Adoro anexos. Tenho um monte de anexos para tudo, pois procuro manter as coisas bacanas exatamente como são. Essa frase é demais. Com essa frase em mente tudo cabe e tudo passa a poder existir. Tá, pode ser que eu esteja falando grego pra muita gente. Mas eu entendo assim. Não estou deformando nada. Estou fazendo anexos.

Nenhum comentário: