quinta-feira, 1 de março de 2007

franka recomenda


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Ele entrou na faculdade, já é quase adulto – embora ainda não tenha idade para dirigir – e como todo adolescente, implica muito comigo. Mas nós dois, eu e o meu filho mais velho, o Chico, temos nossos momentos.
Foi no primeiro dia de aula dele. Ele chegou em casa e eu corri atrás para saber como foi. Ficava perguntando como era lá dentro, como eram os amigos, o que ele fez, onde almoçou, com a maior vontade de sugar alguma história. Meus filhos ficam bravos comigo porque eu gosto demais de histórias, mas eu falo para eles que é melhor contar logo, senão eu vou acabar inventando e colocando no blog, o que é muito pior para eles.
- Conta, vai Chico. Como foi?
Ele, suspirou e disse que como o prédio da faculdade é antigo, lá no Largo de São Francisco, e a primeira aula foi uma coisa formal, com os diretores de beca e vestidos a caráter, ele se sentiu na escola de magia e bruxaria de Hogwarts, do Harry Potter. Parecia que eu tinha embarcado na plataforma ooito e meio, mãe. E encerrou o assunto.
Eu queria saber mais. Como assim, beca? Como assim, escola de bruxaria? Sério que o diretor estava vestido feito um bispo? Que cor era a roupa? Como assim?
Acho que eu tava enchendo muito o saco dele.
- Mãe - ele disse, me dando uma dispensada e pegando um chicletinho do bolso - dá licença que agora eu não vou poder mais falar.
- Porque? Só para me provocar?
- Mãe, olha aqui – e ele me mostrou o chiclete.
- Que é que tem o chiclete a ver?
- Vai dizer que você não sabe.
- Sabe o que?
Eu juro que estava boiando. Ele suspirou.
- Mãe, se você não sabe, esse chiclete é o caos. Ele arde muito, muito, o lance é esse. Quando a gente coloca na boca, não dá pra falar por quase dez minutos. A gente fica remoendo, chorando, dançando, gemendo. Então eu tou avisando que vou parar de contar as coisas da faculade porque vou comer o chiclete. Estou guardando desde de manhã. Dá licença.
- Sério? Como é esse sabor?
- Ardido, um tipo de morango ácido, sabe?
- Me dá um?
- Sério, mãe?
- Por favor.
Ele me deu. Chamava-se “kriptonita”. Peguei a bolinha vermelha e coloquei na boca na mesma hora que ele. Mordemos. Nossa, gente. Eu sei que essa história parece ridícula, que o meu filho já é grande, que eu sou maior ainda e ainda por cima mãe dele, mas não resisti a total molecagem. Mordi sem dó, como ele mandou, e, em poucos instantes, a experiência aconteceu. Eu e meu filho quase advogado começamos a nos retorcer, gemer, emitir sons guturais, nossos olhos começaram a lacrimejar, viramos dois carpideiros em plena cerimônia de lamentação, quase caindo no chão e rolando pelo tapete. É uma sensação dúbia, de amor e ódio, de bom e ruim, de prazer pelo excesso. Melhor assumir. É simplesmente de-ma-is, fiquei atônita com a experiência, mas meu filho tem toda razão. Não dá para falar, nem prestar atenção, e muito menos contar uma história com aquilo na boca. Um chiclete de kriptonita voce deve comer em casa, no aconchego do seu lar, com os seus. Ô coisa boa para parar um assunto chato.
E sabiam que chiclete de kriptonita vende em qualquer banca de jornal?
Uau. Será que vicia?

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