terça-feira, 28 de novembro de 2006

entranhas


No final de semana passei ao lado de um condomínio aqui perto de casa. Uma rua tranqüila, um condomínio caríssimo e neoclássico cheio de jardins, piscina e fitnesscenters da vida. Novinho.
Logo ao lado, estragando a maravilha monumental da entrada do lugar, percebo uma montanha de lixo. Éca. Um lixo muito, mas muito fedido, atrapalhando a calçada e cheirando mal. Aliás, era uma quantidade descomunal para aquela rua pacata de um bairro cheio de casas.
Óbvio que numa primeira olhada aquilo incomodou. Nossa, que nojo, pensei. Como um prédio tão arrumadinho – não vou entrar no mérito de discutir o tal de um estilo arquitetônico, prefiro apenas comentar o 'padrão' da construção, que é bastante razoável – poderia deixar aquela montanha nojenta na calçada, na frente do prédio, para qualquer pessoa olhar? Nojento, pensei. É o mesmo que você sair de casa de terno, gravata, perfume, gel no cabelo e carregando um papel higiênico imundo. Parei e tirei essa foto. Ora, o condomínio não deveria se preocupar em esconder aquilo? E aquela quantidade que sequer cabia na cestinha apropriada?
A questão é que lixo todos geramos, mas vemos cada vez menos. Lixo, atualmente é uma coisa proibida, escondida. Clandestina. Secretíssima. Shiuuuu.
Mas talvez eu, que já sou meio nojenta, tenha ficado mais incomodada com a quantidade do que com o fato encontrar lixo na rua. Ora, lixo na rua sempre existe, principamente nos dias que os lixeiros passam. Mas vou além. Aquela quantidade mostrava, escancaradamente, o que começa a acontecer com um bairro que se verticaliza. Até então eu andava na rua e passava por cestinhas com um, dois sacos de lixo fedido. Lixos familiares, digamos. Mas prédios tem muito lixo porque tem muitas pessoas morando empilhadas. E para mim pessoas que moram em prédios neoclássicos - não me perguntem porque - consomem muito mais, assim, óbvio que nesse caso é natural termos essa montanha de lixo na calçada.
Acho engraçado lembrar que o incômodo do lixo é uma sensação criada pela sociedade e pela educação. Sempre recordo que quando era moça, ver um cinzeiro sujo não era algo asqueroso. Aliás, me perdoem, mas quando eu era jovem e ainda fumava, eu dormia ao lado de cinzeiros abalroados de bitucas e não dava a mínima. Éca. Mas acho que incomodar-se com a sujeira e o cheiro não é algo que nasce com o ser humano, apesar da tolerância com o lixo na nossa sociedade ter diminuído muito.
Percebo também – e por favor, não concluo – que eu ensino o tempo todo para meus filhos essa intolerância. Diversas vezes chego na sala e dou berros horríveis. "Gente, que nojo!", eu digo quando vejo aquela montanha de papel de bis, pacotes de biscoitos e migalhas de pão, misturados com meias, sapatos e crianças assistindo tv. Nós, mães, aprendemos que faz parte da educação de uma criança aprender que ficar largada no meio da sala com lixo e sapato com sujeira de rua é uma grande porcaria. Mães devem berrar, obviamente, ao se depararem com cenas como essa. Provavelmente isso já deve ter sido permitido um dia, assim como era admitido dormir ao lado do cinzeiro bituquento.
Tudo isso para dizer que eu acho que o lixo na rua tem seus dias contados. Óbvio que do jeito que as coisas vão daqui a pouco lembraremos com muito, mas muito nojo de uma cena como essa. Óbvio que daqui a uns anos daremos berros histéricos ao vermos cenas assim, vocês tem dúvida? Sei lá se os edifícios e casas terão processadores informatizados de lixo ou apenas depósitos trancados a sete chaves, mas tá na cara que isso é completamente incondizente com a assepssia da vida moderna.
Aliás, duvido até que no futuro a gente use banheiros. Céus, como faremos?

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