terça-feira, 10 de outubro de 2006

gente que ri



Tenho uma necessidade constante de entender relacionamentos. Percebo que tenho sintonia total com algumas pessoas e com outras absolutamente nenhuma, um problema. Com as pessoas sem sintonia sempre achei que era uma questão de tempo: que haveria de chegar a hora do alinhamento entre o meu ser e o ser em questão. Hoje sou completamente descrédula dessa teoria: olha, tenho absoluta certeza que eu não vou ter nenhuma relação com pessoas sem sintonia inicial. Não sei se esse dar de ombros significa que estou amadurecendo ou me infantilizando. Talvez a segunda hipótese seja mais adequada ao nível (intelectual e alcoólico) das minhas teorias, como essa, discutida veementemente num bar ontem. Já com as pessoas sintonizadas faço órbitas completas e perfeitas. As falas, a interação, a simplicidade e o bem estar surgem inevitáveis como fenômenos da natureza. É como se eu e a pessoa chovêssemos, ensolarizássemos e nublássemos independente da nossa querência. Demais. Sempre li que procuramos essa ou aquela relação com pessoas ou grupos por questões genéticas – dizem que o ser humano homem sempre busca inconscientemente nas relações melhorias na descendência. Mas isso não explica tudo: como às vezes gostamos de uma pessoa e implicamos com, sei lá, o irmão dessa pessoa? Se os genes são parecidíssimos, como a coisa funciona, afinal? Não, não deve ser isso. Mas por mais que eu tente entender as minhas empatias, chego a uma conclusão óbvia e boba: minha sintonia não está ligada a nenhuma questão química, espíritas, genética ou intelectual. Assumirei a verdade. A minha empatia com essa ou aquela pessoa, infelizmente, tem raízes muito mais simplórias e ingênuas: é apenas por causa do senso de humor. Se a pessoa gosta de gracinhas, de piadinhas, se dá risada, se tem humor, então eu me dou bem com ela. Se não ri, eu não me dou bem. Só isso. Um vexame essa conclusão infantil para uma pessoa mãe, profissional e adulta como eu, e confesso que entender isso me deixou atônita. Mas dane-se: já gastei milhões de KVAs de energia cerebral para entender porque gosto mais desse amigo e não daquele e hoje não gasto mais nenhum: gosto de gente que ri e ponto final. Assim como na tristeza, no enfrentamento das dificuldades, nos silêncios e nas euforias, acho que o ser humano precisa se afinar também na gargalhada e no acesso de riso. O que eu imaginava ser conseqüência é, na verdade, para mim, fio condutor e espinha dorsal. Há um tipo de inevitabilidade no humor que me faz praticamente despencar no outro, fazer o quê. Não sei se é criação, formação ou personalidade, mas sem humor não vai. Isso mesmo, simples assim: eu gosto de gente que ri.

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