segunda-feira, 11 de setembro de 2006

'o corte' do costa gavras



O filme é sobre um cara de 40 - 50 anos, executivo de uma empresa de reciclagem de papel em Paris, que perde o emprego de dez anos depois de uma fusão da sua empresa com outra. Fica desempregado da noite para o dia e não tem como sustentar a família - a esposa e um casal de filhos adolescentes. Assim se passam dois anos. Ele começa a pirar com a falta de trabalho, até que um dia o filho mostra à ele, na tv, uma propaganda de uma empresa concorrente da antiga empresa onde trabalhou. Na propaganda vê-se um executivo gordinho ridículo dando depoimentos, assim tipo enaltecendo a empresa. Ele fica puto e comenta com a família que era ele que deveria estar ali, no lugar daquele cara, que ele é muito melhor e mais competente que o fulano gordinho. Logo em seguida ele começa a pensar que, se aquele cara morresse, ele entraria no lugar do cara, e começa (é engraçado) a planejar a morte do cara. Mas ele conjectura que, mesmo assim, depois da morte do gordinho, ele teria outros concorrentes para conseguir o emprego, então resolve primeiro descobrir quem seriam eles. Inventa uma empresa fictícia de reciclagem de papel, cria uma caixa postal no correio e coloca um anúncio falso oferecendo um bom emprego. Recebe assim um monte de currículos e seleciona os melhores, que são cinco fulanos - que ele define como seus inimigos em potencial. Assim decide, antes de eliminar o executivo gordinho, eliminar aqueles cinco homens que podem ser escolhidos no lugar dele depois que o cara morrer. É um roteiro muito genial, falaverdade. Obviamente que ele tem todos os dados dos caras - endereços, telefones, etc., o que na cabeça dele torna a coisa fácil. E assim aquele homem normal, super renato, morador de uma casa bacana de subúrbio, com cara de executivo, familia bonitinha, papai-mamãe-dois filhinhos, resolve cometer crimes horríveis a luz do dia, matando cada um dos concorrentes a sangue frio. Se ele sente culpa? Sente, mas não é uma culpa absurda, e é ai que o filme é maluco. Ele chega a tremer e ter xiliques quando mata os caras, a adrenalina corre solta, mas ele logo se recupera e a sensação que temos é que a coisa não é tão horrível assim. Olha. É sensacional o filme e completamente politicamente incorreto. A chave da questão, na minha humilde opinião, está num diálogo em família. No meio do filme o filho mais velho rouba um computador e vai preso. O pai, então já o maior 'bandidão' da paróquia, rapidamente descobre e destrói as provas haviam na casa dele contra o menino para a policia não perceber. Assim o menino recebe uma pena pequena, presta trabalhos comunitários e consegue ser libertado rapidamente. A família sai para almoçar para comemorar a soltura do moleque e dá-se o seguinte diálogo na frente do pai, que se mantém calado:
"Os fins nunca justificam os meios", diz o menino.
"Bom, menos para tirar o filho da cadeia...", fala a menina, irônica.
"E menos em tempos de guerra", conclui o garoto.
"Na verdade, a escolha dos meios é luxo de uns poucos privilegiados", conclui a garota.
"Mesmo em tempos de guerra", fala a mãe.
"As provas é que são um lixo", fala o menino.
"E a filosofia também não é?" pergunta a menina.
Hehehe. O fim do filme eu não vou contar, mas fiquemos aqui com essa impressão sobre essas malditas filosofias de vida...
Mas Franka, você não tinha parado de escrever aqui?
Nunca, jamais...


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