segunda-feira, 31 de julho de 2006

sonho? eu, hein?




Tive um sonho super legal hoje.
Mas não conto.
Perdões, mas não conto mêêêsmo.
Muitas vezes eu lembro animada de um sonho que tive e morro de vontade de escrever aqui no blog. Tem uns que são uma piada. Mas sempre me reprimo e rapidamente tiro a idéia da cabeça. Essa coisa de contar sonho, que sempre achei que era um assunto frugal, levinho e despretensioso, pode se virar de modo diabólico contra você, dependendo do sonho e para quem você conta aquilo.
Vixe.
É que as vezes esquecemos que existem pessoas que interpretam os sonhos. E isso é um perigo, vocês não queiram nem saber. Não entendo porque interpretações de sonhos têm que ser sempre coisas tão densas e vexaminosas. Será possível que todos os sonhos tem que ter interpretações sexuais, tem que pegar na ponto crítico do casamento, tem que cutucar a coisa que dá mais vergonha em você, tem que falar do assunto que você mais evita? Tá, sabemos que os sonhos são escritos com o caldeirão destampado, mas não precisamos exagerar.
Tudo por causa de uma experiência traumática. Há mais de dez anos, quando eu tinha os filhos bebês, arrumei um emprego de meio período. Minha vida era a maior correria, mas eu estava sem grana e precisava trabalhar. Quando soube desse trabalho, fui até lá e o convenci o arquiteto-dono que eu faria tudo que deveria ser feito em meio período. E assim eu fiz – chegava cedão e trabalhava feito uma tarada até as duas, quando voltava correndo para casa para cuidar dos pimpolhos. Acho que por causa da correria, da canseira e da maluquice que se tornou aquilo tudo, que um dia eu cheguei, sentei e, mesmo trabalhando e desenhando, comecei a contar para um outro arquiteto ao meu lado um sonho estapafúrdio que eu acabara de sonhar. Era um sonho bem lelé, que envolvia a queda dos meus dedos da mão, cada um bem devagarinho, o meu clube, uma mulher que gritava comigo e um avanço de formigas sobre meus pés. Bom, contei o sonho para o cara com todos os detalhes, o lugar, o que acontecia, quem falava comigo, o que eu sentia, ou seja, descrevi a cena todinha, rindo. Ele, que estava apenas ouvindo e trabalhando, também achou engraçado, e nós dois demos aquelas risadinhas de colegas de trabalho e falamos “nossa, cada uma...” e “... tem cada maluquice que a gente sonha, né?”.
O que eu não imaginava é que o arquiteto dono do escritório estava ali, atrás de mim, tomando um cafezinho e ouvindo tudo. Tudo, tudo, tudo, que droga. E eu não imaginava também que ele era um aficionado, estudado, analisado, terapeutizado, pasteurizado e interessado até a alma por... sonhos.
Céus.
Ele entrou animadíssimo no salão com seu café. Era como se aquilo fosse com ele. Pigarreou e ali, na frente de todo mundo, ele passou a analisar o meu sonho de dedos caídos, formigas no pé, clube e mulher gritando de um modo completamente obsceno, gente. Olha, vocês não imaginam a pornografia que ele disse que eu sonhei- uma coisa horrível, absolutamente indecente. No final da explicação todo mundo olhou para mim horrorizado.
Nossa. Que tipo de mulher que eu era?
O pior de tudo é que eu não entendi patavina – a explicação não tinha nada ver comigo ou com a minha vida, mas Deusmelivre estender aquela conversa constrangedora. Aceitei e passei seis meses sendo considerada uma pessoa perniciosa, de sonhos picantes, com uma mente absurdamente nociva.
Eu, hein? Depois disso, sonhos nunca mais.

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