Eu sou filha de médico.
Neta de médico.
E tomara que mãe de médico também. Quem sabe?
Isso para dizer que entendo um pouco da coisa. Não de diagnósticos, obviamente, mas do funcionamento da medicina. Tanto meu pai quanto meu avô, que já faleceram, tiveram consultórios e trabalharam em hospitais. Meu avô tinha consultório em casa. Na varanda da casa dele existiam duas portas, uma para a casa outra para o consultório. Já meu pai tinha uma clinica na avenida Angélica. Era ortopedista.
Naquela época tanto para mim, filha e neta, quanto para qualquer paciente, a coisa era super simples. Você não tinha que marcar nada. Você ia ao médico, sentava, esperava um pouco e ele te atendia.
Pronto.
Juro que não entendo porque hoje as coisas não podem ser assim. Quer coisa mais complicada do que ir ao médico?
Minha filha está com febre desde ontem, e eu estou atrás de um médico para cuidar dela. Liguei para a pediatra à noite, mas não tinha ninguém no consultório. "E será que ela teria horário hoje? Tsc. Vou levá-la no pronto socorro de uma vez", pensei. Acordei bem cedinho e lá fomos nós duas.
Sim, deu tudo certo, fomos atendidas, ela já está bem e medicada, antes de qualquer coisa. Mas o que eu percebi e queria falar é a complicação que é atender um paciente hoje em dia. E não tem jeito. Ou você marca uma consulta com uma semana de antecedência – e olha lá – ou entra no esquema das fichas e números e salas de espera do pronto socorro. Gente, que zona.
Chegamos, eu e ela. Uma moça nos atendeu e nos deu um papel com um número. Mandou a gente sentar e esperar o número aparecer num painel eletrônico. Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. O engraçado é que não tinha mais ninguém na sala, o pronto socorro estava vazio naquela quase madrugada, mas a gente tinha que olhar o painel. Óbvio que a gente viu a enfermeira chegar, vimos quando ela entrou na sala, vimos ela apertar o botão do painel. E só ai pudemos entrar. Depois que o painel acendeu. Essa é a regra.
Era a triagem. Depois da triagem ela deu outro papel com outros números nos mandou para a sala de espera ao lado.
- A senhora tem antes que fazer um “cadastrozinho” - ela explicou.
Fazer um “cadastrozinho” é mostrar a carteirinha do plano de saúde e assinar um papel dizendo que, se o plano de saúde não pagar a conta, você vai dar todo o seu dinheiro para o hospital. Todinho, porque falaverdade, hospital é caro demais.
Sentamos. Esperamos. Como estava demorando para chamarem nosso número, como só tinha a gente ali e como todos os guichês estavam vazios, fui reclamar.
- É que quebrou a impressora que faz a pulseirinha, senhora.
- Pulseirinha?
- Aqui o paciente só entra no pronto atendimento de pulserinha... – ela explicou – a senhora senta e espera que já vamos consertar a máquina, o seu número vai acender no painel eletrônico. Quando acender a senhora vem aqui.
Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Chegou um moço para consertar a tal impressora de pulseirinhas, demorou mais um pouquinho. A moça me olhou de longe, e, ao invés de me chamar, apertou o botão. Plim. Meu número apareceu em vermelho. Sorri e fui até ela.
Ficha e cadastro e assinatura.
- Agora a senhora vai para a sala do lado, coloca essa pulseirinha com esse número na sua filha e espera. Eles vão chamar ou pelo número da pulseirinha ou pelo nome.
- Desta vez não vai ter painel eletrônico não?
- Não senhora. Agora é nome ou número.
Sentamos de novo. Mais tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Esperamos até que uma mulher chamou o nome da Nani. Olhou a pulserinha.
- Ah. Você é a médica? - perguntei, aliviada.
- Não. Sou a pessoa que encaminha os pacientes até a sala da médica.
E era longe mesmo. Olha. O negócio é tão complicado que tive a impressão que teríamos que tomar uma van.
Enfim, lá no fundo de um dos corredores apareceu uma médica que atendeu e medicou minha filha. Nessa brincadeira, de uma hora e meia, foram três salas de espera, dois tíquetes de números fora os do estacionamento, uma pulseirinha, diversas fichas, um monte de enfermeiras e atendentes. Quando saímos pelos mesmos corredores, vimos a Ana Maria Braga na Alemanha com o papagaio dela em todas as inúmeras tvs.
Vixe. Coisa mais complicada que é ir ao médico. Meu pai e meu avô cairiam pra trás.
Isso para dizer que entendo um pouco da coisa. Não de diagnósticos, obviamente, mas do funcionamento da medicina. Tanto meu pai quanto meu avô, que já faleceram, tiveram consultórios e trabalharam em hospitais. Meu avô tinha consultório em casa. Na varanda da casa dele existiam duas portas, uma para a casa outra para o consultório. Já meu pai tinha uma clinica na avenida Angélica. Era ortopedista.
Naquela época tanto para mim, filha e neta, quanto para qualquer paciente, a coisa era super simples. Você não tinha que marcar nada. Você ia ao médico, sentava, esperava um pouco e ele te atendia.
Pronto.
Juro que não entendo porque hoje as coisas não podem ser assim. Quer coisa mais complicada do que ir ao médico?
Minha filha está com febre desde ontem, e eu estou atrás de um médico para cuidar dela. Liguei para a pediatra à noite, mas não tinha ninguém no consultório. "E será que ela teria horário hoje? Tsc. Vou levá-la no pronto socorro de uma vez", pensei. Acordei bem cedinho e lá fomos nós duas.
Sim, deu tudo certo, fomos atendidas, ela já está bem e medicada, antes de qualquer coisa. Mas o que eu percebi e queria falar é a complicação que é atender um paciente hoje em dia. E não tem jeito. Ou você marca uma consulta com uma semana de antecedência – e olha lá – ou entra no esquema das fichas e números e salas de espera do pronto socorro. Gente, que zona.
Chegamos, eu e ela. Uma moça nos atendeu e nos deu um papel com um número. Mandou a gente sentar e esperar o número aparecer num painel eletrônico. Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. O engraçado é que não tinha mais ninguém na sala, o pronto socorro estava vazio naquela quase madrugada, mas a gente tinha que olhar o painel. Óbvio que a gente viu a enfermeira chegar, vimos quando ela entrou na sala, vimos ela apertar o botão do painel. E só ai pudemos entrar. Depois que o painel acendeu. Essa é a regra.
Era a triagem. Depois da triagem ela deu outro papel com outros números nos mandou para a sala de espera ao lado.
- A senhora tem antes que fazer um “cadastrozinho” - ela explicou.
Fazer um “cadastrozinho” é mostrar a carteirinha do plano de saúde e assinar um papel dizendo que, se o plano de saúde não pagar a conta, você vai dar todo o seu dinheiro para o hospital. Todinho, porque falaverdade, hospital é caro demais.
Sentamos. Esperamos. Como estava demorando para chamarem nosso número, como só tinha a gente ali e como todos os guichês estavam vazios, fui reclamar.
- É que quebrou a impressora que faz a pulseirinha, senhora.
- Pulseirinha?
- Aqui o paciente só entra no pronto atendimento de pulserinha... – ela explicou – a senhora senta e espera que já vamos consertar a máquina, o seu número vai acender no painel eletrônico. Quando acender a senhora vem aqui.
Tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Chegou um moço para consertar a tal impressora de pulseirinhas, demorou mais um pouquinho. A moça me olhou de longe, e, ao invés de me chamar, apertou o botão. Plim. Meu número apareceu em vermelho. Sorri e fui até ela.
Ficha e cadastro e assinatura.
- Agora a senhora vai para a sala do lado, coloca essa pulseirinha com esse número na sua filha e espera. Eles vão chamar ou pelo número da pulseirinha ou pelo nome.
- Desta vez não vai ter painel eletrônico não?
- Não senhora. Agora é nome ou número.
Sentamos de novo. Mais tv ligada, máquina de refrigerante e revistas. Esperamos até que uma mulher chamou o nome da Nani. Olhou a pulserinha.
- Ah. Você é a médica? - perguntei, aliviada.
- Não. Sou a pessoa que encaminha os pacientes até a sala da médica.
E era longe mesmo. Olha. O negócio é tão complicado que tive a impressão que teríamos que tomar uma van.
Enfim, lá no fundo de um dos corredores apareceu uma médica que atendeu e medicou minha filha. Nessa brincadeira, de uma hora e meia, foram três salas de espera, dois tíquetes de números fora os do estacionamento, uma pulseirinha, diversas fichas, um monte de enfermeiras e atendentes. Quando saímos pelos mesmos corredores, vimos a Ana Maria Braga na Alemanha com o papagaio dela em todas as inúmeras tvs.
Vixe. Coisa mais complicada que é ir ao médico. Meu pai e meu avô cairiam pra trás.
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