segunda-feira, 22 de maio de 2006

o código da fila



- Mãe.
- Oi.
- Vamos ver Código da Vinci hoje?
- Chico, você tá doido? Tem mais fila no Código da Vinci do que quilômetros de congestionamento naquela segunda do PCC. Não vou nem morta, domingo é dia de descansar e não de micar. Podemos até ir ao cinema, mas no Código nunca. Jamais.
- Ah, vá. A gente compra na Internet e ...
- Não. A gente não vai conseguir. Esquece.
Escolhi um outro filme num cinema lá na Paulista. Eles pegaram o jornal, fuxicaram e a minha filha se adiantou.
- Mãe, nesse mesmo cinema mas em outra sala está passando o Código... vamos supor que tenha ingresso. Se tiver a gente pode ver?
- Não vai ter. Domingo de estréia.
- E se tiver?
Suspirei. Eles não tem noção.
- Se tiver a gente vê, gente.
- Legal.
Fomos para a Paulista. Almoçamos numa lanchonete na rua Augusta aonde eu ia quando era criança e morava na Haddock Lobo. Depois do almoço, como era cedo, fomos andar pela avenida. Eu morei por ali por vinte anos, adoro aquele lugar. É estranho ter familiaridade com um lugar tão cosmopolita e urbano, mas eu tenho. Adoro aquela avenida e as redondezas. A Paulista acolhe os pedestres. Nunca vi ninguém exaltar a Juscelino ou a Santo Amaro. E a Faria Lima, embora seja generosa, tem edifícios que oprimem o pedestre. A Paulista não. A Paulista aceita, convida.
Chegamos no cinema. Faltava meia hora para o meu filme e uma hora e meia para o Código. Lugar lotado. Entupido. Os meninos se empoleiraram no guichê.
- Tem ingresso pra o Código?
- Ainda tem – falou a bilheteira.
Eles pularam de alegria.
- Viu mãe? Ahá. Viu?
Vi.
Compramos.
- E agora? Olha esse lugar que inferno.
Eles me olharam.
- Ora mãe. Agora a gente vai para a porta e ficamos por ali, pois vamos ser os primeiros a entrar.
- Os primeiros? Impossível. Vocês são completamente malucos. Não sei porque eu topei vir. Vai ser um inferno. Vou acabar brigando com alguém.
- Mãe, menos. Vai até a banca, compra um sudoku pra você, toma um café e volta daqui a pouco. Sossega e deixa com a gente.
Dito e feito. Comprei um sudoku, tomei um café, sentei para ler na sala de espera.
- Mãe! Vem!
Levei um susto quando vi o tamanho da fila. Aquilo devia lotar uns cinco cinemas. Uma fila enorme e larga, pois não existia vivalma sem um balde monstruoso de pipoca e uma copo com dois litros de refrigerante. Cadê meus filhos? Não era possível. Hã? Os primeiros?
- Aqui mãe!
- Como conseguiram?
- Essa é a graça mãe. Essa é a graça. Temos cara de losers? – eles me disseram, triunfantes – Esse é o divertimento, não é só ver filme. É ser o primeiro da fila, ahá!
Os três sorriram. E fazia parte da vitória entrar correndo na sala, antes de todo mundo. Ou seja, fomos os primeiros a entrar na sala e assistimos em lugar nobre. É engraçado o bem que um trunfo (ainda que ridículo desses) faz nas pessoas. Sério, até eu me senti super poderosa e entrei de nariz empinado. Afinal, era a primeira da fila! Que domingo vitorioso. Nossa. Uau.
O filme? Maravilhoso, eu adoro filmes de aventura onde as pessoas quase morrem a cada cena e não traumatizam, não precisam de antidepressivos e nem de analistas.
Mas que filme o quê.
O melhor foi desvendar o Código da Fila.

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