quinta-feira, 25 de maio de 2006

a bolinha de chiclete



Foi numa outra reunião de trabalho. Estávamos em seis pessoas, todos numa grande mesa retangular, discutindo os encaminhamentos de uma obra quando uma das engenheiras abriu a bolsa e pegou um chichetinho. Reunião sempre me dá a maior fome. Acho que é culpa do meu inconsciente, que vê “mesa” e pensa “comida”. Óbvio. Imagino que se tivéssemos que fazer reuniões de trabalho em “camas”, eu morreria de "sono".
Associação, ué.
- Quer? – ela perguntou ao notar o olho gordo.
- Hum. Aceito.
Ninguém mais quis, só eu. Coloquei o chicletinho na boca e comecei a mascar. Em questão de segundos aquilo ficou mínimo. Chiclete esquisito, mas como o ditado diz que à cavalo dado não se olha os dentes, fiquei caladinha.
Depois de um certo tempo, entrou na sala uma copeira com um bandeja de café.
Oba. Café.
Chegou a minha vez.
- Açúcar ou adoçante?
- Puro – respondi.
A moça me deu a xicarazinha.
Não dá para tomar café quente com chiclete de hortelã na boca, certo? Olhei ao redor e tirei o chicletinho da boca com os dedos, discretamente. Legal. Fiquei com o negocinho na mão. Onde colocar? Não tinha um único papelzinho por perto. Olhei ao redor. Nada. Nem um lixinho à vista na sala, e eu com aquela bolinha grudenta na mão. Resolvi colocar aquela bolinha de goma no cantinho da xícara, bem discretamente. Afinal, era uma bolinha mínima de chiclete.
Tentei uma primeira vez, mas a bolinha não desgrudou do meu dedo. Estava mais interessada em mim do que no pires. Alguém me fez uma pergunta sobre a reunião.
- Hã? Como?
A pessoa repetiu. Eu paralisei com a bolinha nos dedos, disfarçando, como se ela não existisse, e me pus a falar. Logo que acabei, voltei à bolinha. Nada, ela não desgrudava. Dei uma sacudidinha. Neca. Fiz a burrada de me aproximar da xícara quente, o que deu uma derretida na bolinha e tornou-a mais melequenta e mais grudada no meu dedo. Saco. Ela não saia da minha mão de modo algum, embora eu fizesse a maior dança ao redor do pires. Foi quando falaram comigo de novo. Virei estátua mais uma vez.
Falei direitinho, suspirei e, quando deu, voltei à ela. Embaixo da mesa não dava para colocar, pois parte do tampo era de vidro. Resolvi enrolá-la mais ainda com o dedo e o dedão, para ver se com a fricção eu tirava um pouco do grude. Foi quando a bolinha grudou nos dois dedos. Raiva. Voltei ao pires, por cima e por baixo, e quando falaram comigo de novo eu já não prestei mais atenção alguma, pois aquilo estava me irritando muito e eu só conseguia olhar aquela porcaria de bolinha, o pires e meus dedos. Pra que que eu fui aceitar aquela droga? Quando vou aprender a não ser criança? Parei a rolar a bolinha e, nervosa, esqueci o tudo e passei a sacudir a mão. Dane-se. Até que uma hora, meio sem perceber, dei um safanão violento para o nada e um urro.
- Urghhh! Saco!
Quando olhei ao redor, a sala estava em total silêncio. Sepulcral. Vergonha.Todo mundo me olhando, pasmo. Acho que eles pensaram que eu estava tendo um ataque. Parei e mostrei a bolinha para todos. Nem assim ela tinha descolado de mim.
- Grudou – eu disse, muito envergonhada.
Afinal, uma adulta, né.
A engenheira, sem achar graça nenhuma, me deu o papelzinho usado do adoçante dela. Desgrudei. Ufa.
Mas fiquei sem café. Gelado. Fazer o quê.

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