quarta-feira, 5 de abril de 2006

colombas em pleno vôo


- Gente! Corre aqui!
Era o Zé, no café da manhã do domingo.
- Que foi?
- Vocês não acreditam, venham ver. A Colomba Pascal mudou de formato! – ele exclamou, levantando a caixa e mostrando a nota na embalagem.
Todos ficamos curiosos. Há anos que todos temos uma implicância absurda com a Colomba Pascal. Para quem não sabe, Colomba Pascal é um tipo de pão-rosca parecido com um panetone que foi inventado para se comer na páscoa. E, para quem não sabe também, o tal pão-rosca tem formato de... pomba.
Juro. Pomba.
Acho que compramos e comemos Colombas Pascais durante todas as páscoas só para poder entender aquela birutice. Pois gente, pensa. De quem foi a idéia de girico de fazer uma rosca de páscoa em formato de... pomba? Quer coisa mais... desconjuntada que uma pomba? E além disso, a tal pomba do formato da rosca está em pleno vôo.
Uma pomba em pleno vôo! É o mesmo que fazer um bolo em formato de leão em posição de ataque, um pão em formato de cavalo correndo. É uma loucura total e completa alguém imaginar uma comida com o formato de um ser em total movimento. Um delírio alimentar.
A nossa implicância vem de anos atrás. Um dia, depois de consumi-las avidamente, o Zé percebeu. Ao abrir uma, chamou a família toda para analisar aquilo atentamente.
- Gente. Vem aqui me ajudar.
- Que foi, pai?
- Agora que eu percebi que "Colomba" vem de "pomba". Mas. Mas quem vê alguma pomba aqui na Colomba?
- Pomba, onde que tem pomba? – perguntou o João – Estou vendo um bolo.
- Isso não é bolo, é Colomba, João – falou a Nani.
- Não é possível – exclamou o Zé, revirando o prato e olhando de todos ângulos – Será que isso é uma asa? Não, aqui é o rabo, mas... Nossa, já comi tantas e nunca reparei...
- Pega a caixa e vê se tem uma dica – sugeri.
- Acho que é uma pomba morta, inchada e cheia de vermes – sugeriu um dos meninos, rindo.
Sério, eu nunca vi uma idéia tão estapafúrdia a como essa. É impossível entender de onde vem aquele estranho ser. Uma coisa daquelas, uma Colomba em formato de pomba, onde é impossível distinguir a cabeça, das asas , do rabo, deveria ser proibida de ser comercializada. Não dá para comer um alimento com um código desses. Por mais que entortássemos o prato e virássemos os olhos, nada da pomba. Vimos um cachorro, um jacaré, um dos filhos viu uma bota, eu vi um chapéu com flores.
- Quem inventou isso? – perguntou o Zé olhando para a pobre da pomba.
Colombas, assim como pães e bolos, crescem para todos os lados. Não são como biscoitinhos, que são sequinhos e controláveis. São massas esparramadas, entregues ao destino. Um bolo, uma colomba ou um pão podem ter formatos quadrados, redondos ou, no máximo, figuras simples, como coração. Querer fazer uma colomba em formato de pomba é um aberração do design e do marketing. É um ato de repressão contra o crescimento. Contra a vida.
- Leiam aqui – o Zé mostrou para todos – “Agora com novo formato”.
Abrimos a caixa curiosos.
Olhamos a colomba.
Ufa.
Um ovo.
Será ovo de pomba?

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