domingo, 5 de março de 2006

gondolas arrumadinhas


Ontem eu coloquei aqui uma pergunta: alguém me explica porque um pouco antes da páscoa é tradição nos supermercados colocar todos os ovos de chocolate pendurados acima das nossas cabeças, em todos os corredores, criando um grande escuridão e um sensação de abafo total?
Ichi, gente, acho que retiro aqui publicamente essa pergunta.
E não estou ganhando um tostão e nem ovo com isso.
Vou explicar.
Eu vou toda semana no supermercado. Aqui em casa eu e o Zé temos um acordo de divisão de obrigações chatas. Só para resumir, além dos outros itens, os carros são do Zé e supermercado é meus. Olha, é um saco fazer supermercado toda a semana, mas é melhor do que ter que lembrar do IPVA, levar no mecânico, fazer revisão e até ficar sem carro. Sim, porque 'ficar sem carro' é incumbência de quem cuida dos carros.
Há anos (e bota ano nisso) que eu faço supermercado aqui em casa. No começo eu me virava pelos caminhos – ao sair do trabalho eu passava em algum lugar e comprava algumas coisas. Depois a família cresceu e foi preciso reservar uma hora da semana só para o supermercado.
Uma época algumas pessoas me convenceram a fazer supermercado nos hipermercados. Engraçada a frase, mas é isso mesmo. Diziam que era mais barato e mais prático, que tinha mais “variedade” e “menor preço”. Ta´, tá. Tudo isso é verdade, mas eu desisti por outro motivo. Ah, confesso. Tinha que andar muito lá dentro. Pensando bem, desisti dos hipers por pura preguiça. Eu bocejava ao me lembrar o quanto teria que andar lá dentro para encher aquele maldito carrinho.
Desde então passei a ir ao Pão de Açúcar aqui da esquina. É velho, pequeno e apertado, mas pra mim está ótimo. Foi lá que ontem pela manhã eu vi os ovos pendurados. Porém, a cada dia que vou, fico mais espantada com uma coisa.
A bagunça.
Não é que o supermercado seja bagunçado no mau sentido. Existe lá dentro uma visível rede de encaminhamentos e ações que me parecem completamente caóticas, apesar de, sempre, no final dar tudo certo.
Mais ou menos o seguinte. Eu sempre vou no sábado, que é um dia cheio. Nunca vi o mercado sem engarrafamento de carrinhos, já tive que fazer manobras incríveis, já dei trombadas e já deixei um monte de coisas caírem no chão. No caixa, sempre fico desesperada: vejo todas as minhas coisas saírem do carrinho e serem colocadas em sacolas e caixas e outros carrinhos numa rapidez incrível. Perco tudo de vista, não sei para onde vão, bem na hora que tenho que pagar. Daí começa uma zona maior ainda: enquanto eu pago, a fiscal de caixa é acionada, acaba a bobina, a música toca, eu entrego o cartão do estacionamento para o menino, dou a chapa do carro e modelo e cor, as compram somem, a caixa me fala que tenho cupons a retirar, eu entro numa fila, o auto falante chama alguém, minha bolsa está aberta, eu não tenho caneta para escrever no cupon, corro para o meu carro, como é mesmo a cara do menino e onde eu parei?
E de repente, está tudo ali. Sábado após sábado, mês após mês, ano após ano e tudo, no meio daquela bagunça incrível, dá certo.
Certinho.
Porque na verdade, gente, não há bagunça alguma. Foi isso que eu descobri hoje. Eu vejo uma bagunça que não existe, é a minha cabeça que vê bagunça onde tem uma enorme organização.
No meio das respostas à minha pergunta, um leitor, o Peri, respondeu uma coisa curiosa. Disse que os ovos ficam ali, pendurados nos corredores simplesmente porque não tem onde ficar. Não tem lugar para aquele monte de ovos nas prateleiras. Então eles penduram, ele disse.
Ora, mas é claro. De novo, eu, a implicante chata, fui pega de surpresa e estou aqui com a maior cara de tacho. Obviamente que a coisa funciona e funciona muito melhor ainda nessas horas de caos, como é a páscoa e o natal. Onde colocar aqueles ovos todos, que tem formatos completamente inimpilháveis, a não ser no teto, pendurados?
Além de ser uma ótima solução, confesso – é coisa de gênio.
Passo esse domingo então com essa questão na cabeça. Porque eu vejo o caos onde não há caos? Por trás daquela bagunca, há gondolas arrumadinhas. E por trás dessa mulher arrumadinha aqui...
Bem, acho que quem é caótica, afinal de contas, sou eu...

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