Outro dia comentei que meus filhos adolescentes acham e-mail coisa de velho, dizem que hoje em dia ninguém mais usa. Segundo eles, o negócio é messenger ou torpedo. E-mail já ficou obsoleto, declararam.
Fiquei intrigada. Como uma coisa pode ficar obsoleta tão rápido? Mas fazer o quê... Existem invenções de vida curta, como walkmans, telefones de disco e e-mails, e invenções de vida longa, como guarda-chuvas, volante de carro, tesouras.
Ah. Pobre e-mail. Quando ele foi inventado, anos atrás, ninguém acreditava que daria certo. Nessa época, um dia, fui numa reunião com um engenheiro. No meio da conversa ele tira um papel da mala e me mostra, exibido.
- Que é isso? – perguntei.
- O e-mail que o calculista me mandou. Leia.
Eu li, e logo em seguida ele me colocou outro papel na frente.
- Agora leia esse aqui, que é a minha resposta... – e ele tirou mais um papel da pasta – ... e depois esse, que é a resposta dele. E tem mais um ainda, que é o que eu respondi para ele.
Eu olhei, pasma.
- Você imprime todos em-mails que recebe?
Ele tirou da mala uma pasta recheada.
- Todos. Minha secretária que faz isso e me dá. Olha aqui – ele mostrou, orgulhoso.
Absurdo. O cara andava com seus e-mails pela cidade, pelas obras, pela vida. Era o máximo receber e-mails, embora fosse difícil acreditar na virtualidade. Depois nos acostumamos. Ficou impossível viver sem conecção, sem internet, sem caixa de mensagens. Mas do jeito que as coisas estão indo, sei não.
Ontem recebi um e-mail engraçado de um amigo lamentando o fim do e-mail e falando uma coisa interessante. Ele diz que atualmente usa e-mail e Messenger, mas diz que se incomoda com a falta de cerimônia da janelinha “popping-up”. E compara a entrada da janelinha com uma invasão: “É mais ou menos como quando você está concentrada em sua casa, trabalhando, e a Maria bota a cara dentro do teu escritório e pergunta se você comprou frango. Não é insuportável?”
Ele tem toda razão. O problema do messenger é que ele é um comunicador meio mal educado, gente. Acho que é ai que mora a minha implicância. Não pede licença, é invasivo, é como se ele não batesse na porta para entrar na sua casa. Aliás, há algum tempo que a nossa tela de computador é um tipo de casa, falaverdade...
Quando trabalhava num escritório grande, com outros arquitetos e estagiários, detestava ser interrompida a cada instante pelas mais insignificantes perguntas. Era como se eu, por estar disponível, pudesse ser interrompida a cada quinze minutos. Depois vim trabalhar em casa, estou aqui até hoje e as interrupções continuam, o tempo todo. Sim, agora é a Maria querendo saber se comprei frango para a torta do jantar, é o filho que entra reclamando que acabou a Coca Cola, é a filha que pede dinheiro para o cinema. Caramba, a vida com suas janelas “popping up” é estressante, e agora nem virtualmente a gente está salvo!
E tenho certeza que, se a Maria tivesse computador, ela ia me mandar um messenger lá da cozinha:
Pop!!!
- Você não comprou frango, Lúcia?
Gente velha, viva o e-mail.
Impresso!
... e gente, a partir de hoje, o "frankamente.." estará todas as sextas também numa sen-sa-ci-o-nal coluna na revista paradoXo chamada falaverdade...
Vão lá conferir, deixem mensagens, falem o que acharam, etc, etc.
E olha que engraçado o pé de página que me deram lá:
"*Lúcia Carvalho é arquiteta, vive no eixo Rio-Sampa mas mora em São Paulo. Foi iniciada na literatura por Mario Prata e hoje é uma apaixonada pela crônica."
Falaverdade, isso não é genial? Sou uma APC: apaixonada pela crônica!
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