quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

novidade, max!


Bom, agora eu tenho um Ipod.
Eu.
Sozinha.
Só meu.
É que é a coisa mais rara do universo uma mãe como eu conseguir ter coisas só dela, ainda mais se a coisa é melhor que a dos filhos. Pois o meu Ipod é, realmente, muito melhor que o deles. Tem música, tem cinema, tem fotografia.
Eu devia me sentir o máximo com isso, mas de cara tive problemas. Os meus filhos não se conformaram, ficaram bravos, revoltados. E é absurdamente difícil enfrentar uma situação como essa com filhos adolescentes em casa. Os argumentos eram imbatíveis, o desprezo imenso, as manifestações de revolta foram inúmeras. Aquilo foi tipo de... traição da minha parte.
- Que droga! Não entendo pra que você precisa de um Ipod, mãe!
- Ela nem sabe pegar música na Internet, acha que todas têm vírus - falou o outro filho, rindo de mim - Hahaha!
- E ela vai ouvir aonde, se trabalha o dia todo? E pra que ela precisa de Ipod com vídeo se ela detesta videoclipe? Nunca vê MTV!
Eu tive que passar por tudo isso. E o pior é que dividir o aparelhinho nem pensar. O negócio é mais pessoal que banheiro, celular e micro. Não se divide Ipod, para quem não sabe.
Mas coloquei minhas músicas (de “velha”), minhas fotos (de “velha”) e meus filmes (“ridículos”), que, sinceramente, não tem graça nenhuma de ver naquela tela mínima e no final achei maravilhoso. O som é muito bom e a quantidade nos faz delirar.
Tudo é perfeito, porém detectei dois problemas. O primeiro é que, dentro em breve, vou ficar surda. Surdinha.
Eu não ouvi muito o aparelhinho, mas o que ouvi bastou para meus ouvidos parecerem... inchados e distantes. E bem, esse pequeno problema, o da surdez, não é nada perto do outro problema – o da solidão.
Aquilo isola a gente do mundo. Aquela sensação de “maravilha” é só você que sente, como se tivesse sido tele transportado para dentro de outro mundo. O único problema desse mundo é que você está sozinha lá.
Assim, eu tive uma idéia para resolver o problema, que expus aos meus filhos e exponho aqui para todos.
Aqui perto de casa, por exemplo, tem uma Livraria Cultura. Bem, lá dentro, você pode ouvir as músicas antes de comprar os discos. Você tem duas opções: ou com fones ou dentro de estranhos cones, parecidos com o cone do silêncio do Maxwell Smart – o agente 86 – só que nesse caso o cone é do barulho, e não de silêncio.
É um lugar onde você se posiciona em baixo de um tubo, clica em um botão e o tubo despeja uma música sobre você. Dizem – sinceramente nunca reparei se é verdade – que só você ouve a música.
Olha. Eu nunca vi ninguém embaixo daquele cone além de mim. Eu já fui diversas vezes lá dentro, testo e ouço a música direitinho, mas não sei se o som escapa. Meus filhos se recusam a ficar ao meu lado: quando me vêem ali saem correndo de vergonha e eu continuo na dúvida. Se alguém souber ou topar fazer o teste comigo, eu adoraria.
Tudo para dizer que acho que dentro em breve a tecnologia vai nos permitir coisa parecida. Uma música com raio de alcance. Ou seja, sem que você perceba ou fique visível, a música que você ouve ficará em torno de você. E, se alguém chegar perto, poderá ouvir junto. Talvez até seja possível, no seu próprio Ipod cone, calcular o raio de ação da música. Isso resolveria o problema da surdez e o da solidão, eu disse aos meus filhos depois de expôr toda a teoria, empolgadérrima.
- Hã? Agente 86, mãe? Cone do silêncio? Que coisa mais tosca... – disse um deles, que olhou para o irmão e arrematou, me desprezando mais ainda – Tá vendo? Isso que dá uma mãe ter Ipod...

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