sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

fechada para sempre


Eu gostaria de conseguir dormir de janela aberta, para sentir menos calor no meu quarto-forno-sem-ar-condicionado. Mas depois de uma história que aconteceu com um colega de trabalho há dez anos, aqui nessa cidade eu só durmo de janela fe-cha-di-nha.
Eu, hein?
Esse amigo é meio gordinho e muito, mas muito calorento. Morava em Pinheiros, num apartamento pequeno e de fundos, sem muita ventilação. Conta que o lugar era um forno, o que o obrigava a dormir sem roupa e com as janelas escancaradas.
- O pior é que todos os outros prédios tem janelas viradas para mim - ele me contou, dando de ombros - Mas se os vizinhos quiserem me ver peladão, que vejam, ora. Problema deles. Eu, pelo menos, durmo fresquinho.
Um dia ele chegou no escritório reclamando dos pernilongos. Estava todo picado, um horror. Um outro colega nosso sugeriu um ventilador de teto.
- Eu tenho em casa. Refresca e espanta os bichos.
Bem, o gordinho calorento colocou o ventilador de teto lá no apartamento dele. Mas contou que mesmo assim, mantinha a janela aberta a noite toda.
- Ora, se ventilador é para rodar o ar, que rode ar novo, não ar velho-fechado, não acham?
Bem, tudo ia bem naquele verão, ele dormindo fresquinho e ventilado sem pernilongos, até um dia que chegou apavorado.
- Que foi?
- Vocês não imaginam - ele disse, branco.
Contou fazendo cara de nojo. Dormia ele com sua janela aberta, seu ventilador e lençol nem pensar, quando, provavelmente no meio da noite, entrou um morcegão no quarto. Pode ser que o morcegão sempre entrasse ali e saísse sem problemas e ele nunca tivesse reparado, mas nesse dia o bicho deu de cara com o ventilador.
A toda.
Trombou e ploft. Caiu em cima dele, que, por incrível que pareça, não sentiu nada e nem acordou. Ele conta que deve ter se virado de lá para cá na cama, mas não se lembra de nada.Mas contou que, quando acordou, sentiu uma coisa peludinha em baixo dele. Meio no meio das suas pernas. Bem, digamos,... "ali".
Estranhou. E devagarinho, olhou.
E viu.
O morcego, morto.
Um monte de sangue.
E ele em cima do... cadáver.
Esquentando aquilo. Aconchegando aquilo. Aninhando aquilo!
- Eu não gosto de lembrar! - ele disse, apavorado- Dormi a noite toda em cima dele! Éca!
Contrariado, ele passou a fechar a janela. Ar fresco nunca mais.
Eu também dormia com um vão aberto. Naquela noite, fechei para sempre.
Éca. Não sei porque fui escrever essa história tão nojenta aqui.

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