quinta-feira, 27 de outubro de 2005

dia de aniversário



Pois bem, já se foi mais um ano e hoje é dia do meu aniversário. Eu ia ignorar a data e apenas colocar uma crônica da série ‘arquitetices’ , mas achei que com isso eu poderia parecer metida e blasé. Olha, não adianta a gente fingir que o aniversário da gente não é com a gente. Dá a maior vergonha fazer aniversário publicamente, mas resolvi assumir.
Data mais boba o aniversário, a maioria do mundo trabalha e não está nem ai com você, mas é o único dia que é só nosso no ano. O meu calhou de ser bem no dia do presidente Lula, e tomara que ele esteja feliz lá no palácio com o aniversário dele. É um dia todo meio mágico, por trás dele existe uma aura, uma alegria embutida. Você almoça e pensa “nossa, esse é o almoço do meu aniversário”, você se veste de manhã e pensa, “hum, essa será a roupa do meu aniversário”. Isso dá um significado especial para as coisas do cotidiano que não sei exatamente para quê serve.
Coisas de aniversário.
A única coisa estranha do dia do aniversário é ter que repetir “obrigada” tantas vezes. Acho que é o preço do prazer de ter um dia só seu. Obrigada tia, obrigada mãe, obrigada filho, obrigada Zé, obrigada Maria, obrigada gente, obrigada, obrigada. Acho curioso esse monte de “obrigadas”, mas até hoje não consegui achar nenhuma palavra mais adequada para falar depois dos parabéns.
O pior é que as pessoas nunca se contentam com apenas um “parabéns”. Tudo que é feito hoje para expressar prazer e satisfação é em excesso. É como se só um “parabéns” fosse muito pouco para te cumprimentar pelo seu aniversário, ainda mais num mundo onde as pessoas adoram comprar, consumir, comer, presentear, esgotar, adquirir.
- Lúcia, parabéns!
- Ah. Obrigada.
- Muitas felicidades.
- Obrigada.
- Muitos anos de vida.
- Obrigada.
- Olha, tudo de bom.
- Obrigada.
- Parabéns mesmo.
- Obrigada, obrigada.
Dez minutos depois lá vem a ladainha com outra tia – amigo – irmã – conhecido. E a cena se repete durante o dia todo. O cumprimentador com os inúmeros parabéns e desejos e eu com os inúmeros obrigados naquela cara sem graça.
Lembrei outra coisa engraçada. Hoje eu tinha que viajar para ver uma obra na Bahia, a equipe toda foi. Expliquei.
- É meu aniversário.
Nossa. Vocês não imaginam a receptividade dessa frase. Fui perdoada na hora, as pessoas todas me olharam com um certo respeito. O dia do aniversário é a melhor desculpa para você desmarcar compromissos. Ninguém te cobra nada, é um dia de respeito total às suas preguiças e outras coisas.
Mas a coisa mais genial eu ouvi da minha filha Luciana, quando ela era bem pequena. No dia do seu aniversário ela acordou e me olhou sorrindo.
- E ai? Que tal? Cresci?
Na cabeça dela o “crescimento” se dava exatamente no dia do aniversário e subitamente na hora que ela acordasse. Como se o corpo dela... plop!... crescesse mais um ano bem naquele instante. E por causa disso fazíamos tantas comemorações e dizíamos “nossa, você está ficando grande, que bacana”.
A idéia é muito boa, eu sempre tento adotá-la. Assim, tenho o dia todo de hoje para pensar em quê eu vou crescer e fazer... plop!

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