sábado, 22 de outubro de 2005

as lesmas e o ozônio

(atenção: mais um post de nojo - pode causar asco, repugnância e ânsias)

Morar na cidade tem isso. A gente se civiliza e não sabe mais conviver com insetos. Resolvemos questões complicadíssimas no mundo virtual mas somos derrotados por uma barata ou um ninho de cupim.
Uma vez comentei isso com um amigo biólogo. Ele, um apaixonado por insetos, ficou indignado com minhas aflições. Falou maravilhas de todos os bichinhos, inclusive citando as utilidades de uns para manter a vida dos outros. Éca. Aquela coisa chata da cadeia insetal, que no fim sempre tem um final feliz, flores lindas, uma melhora na camada de ozônio, ar puro e longa vida aos humanos. A tua aflição de baratas perto da salvação do mundo parece a coisa mais idiota do universo e você é obrigado a calar a boca e mudar de assunto.
Bom, como eu moro em casa, está cheio de insetos aqui. As formiguinhas que são comidas pelos pernilongos que são comidos pelas largartixas que são comidas sei lá por quem que são comidos pelos gatos que são praticamente comidos pela Bela, minha cadela, que só foi comida uma vez pelo marido dela, um border collie lindo, o Bug.
Olha, eu não sou maluca, até que agüento bem. Mato as baratas, desprezo largartixas e desratizo a casa a cada seis meses. Pernilongo tem bastante, mas fazer o quê?
Mas nada é tão asqueroso como as lesmas. E aqui na minha casa tem um monte de lesma.
Sabe aquelas lesmas marrons, que se parecem com um bife de fígado ambulante? Elas são o meu pesadelo. Tenho horror das lesmas. Elas andam devagar, nunca sei para onde nem porquê. Estão em busca de quê? São caladas, lentas, perigosas. Não tem nada que as impeça de entrar onde quiserem. Passam sob as portas, entram pelos vãos das janelas de correr, andam sobre o tapete, sobre o sofá, sobre a tv e sobre as paredes, deixando aquela nojenta trilha brilhosa.
Aquela trilha, para mim, é pura provocação. Uma afronta. Sinto que elas querem me dizer o quanto são poderosas e como não tem medo de nada. E se um dia elas andarem em cima de mim a noite? Tenho medo de acordar, me olhar no espelho e ver aquela trilha gosmenta bem no meio do meu rosto.
Argh.
Quando descobri que minha casa era cheia delas, entrei em pânico. Passei a ter pesadelos com os bifes ambulantes. O que fazer? No começo, o Zé pescava as lesmas com uma vara comprida e colocava num saco. Eu ficava berrando ao lado, de ânsia.
- Zé, será que assim elas não fogem? Você deu um nó forte? Coloca mais um saco!
- Sal, joga sal antes – dizia a Maria, transformando a lesma numa meleca asquerosa – enche o saco de sal!
Um dia descobri um sensacional produto na Cobasi que matava as lesmas. Passei a comprar caixas e caixas, criando uma barreira química de bolotas ao meu redor da minha casa. Passei dois anos assim, salva. Porém, há seis meses, quando fui renovar meu estoque, a surpresa.
Proibida a venda de lesmicida.
Parece que é por causa da cadeia alimentar de algum inseto.
Entrei em pânico. O horror voltou. As trilhas descobertas pela manhã. Pensei em fazer uma barreira de sal ao redor da casa, pensei em mudar de casa.
Essa semana veio o jardineiro aqui.
- Tarcísio, você viu? Não vendem mais lesmicidas. Disseram que foi proibido por lei.
Ele balançou a cabeça.
- Olha, eles pararam de vender, mas eu compro no mercado negro, dona Lúcia – e ele abaixou o tom de voz – be, se a senhora quiser eu arrumo...
Epa. Seria contrabando de lesmicida?
- Ei, eu quero... – sussurei, animada – quanto cada?
O homem falou mais baixo.
- Quinze reais o pacote. Quer quantos?
Olha, gente, perdão. Vou quebrar a cadeia e prejudicar a camada de ozônio.
Mas não, lesma não.
Argh!

3 comentários:

Anônimo disse...

as lesmas, qdo treinadas, têm gde utilidade nos lares atuais. Quem mais teria paciência ou tempo de levar as tartarugas para passear?

Ana Téjo disse...

Ei, Lúcia,
No fundo, no fundo, tudo tem uma utilidade do ponto de vista culinário: em vez de pensar em bifes de fígado que andam, pense em escargots, querida. Vc vai se sentir na Provence. Glamour total!
JU...

franka disse...

juuuuu! que éca!