sábado, 3 de setembro de 2005

a idéia do Zé



- Eu vou te dar uma idéia pra uma crônica, lú.
- Você, Zé?
- É.
- Uau. Nunca vi você ligar para as minhas crônicas.
- Não fala assim. Eu já te dei uma idéia uma vez e você desprezou. Aquela do homem da lanchonete que gritava “omééélete”.
- Aquilo era uma crônica muito boba. Tinha graça contando, mas escrevendo não funcionava.
- Ah, vá. Era ótima a crônica do homem do omelete. Você que não soube escrever.
- Vá, diz ai qual é a sua idéia. Tou curiosa.
- É assim. É uma crônica sobre um tipo de pessoa.
- Um tipo de pessoa?
- É.
- Continua. Eu gosto de crônica assim.
- Bom, esse tipo de pessoa um dia pergunta qual é o seu número de telefone.
- Hã? Que tipo de pessoa que pergunta meu telefone?
- Pérai, deixa eu explicar, pô.
- Não estou entendendo nada.
- Mas eu nem comecei, lú!
- Imagina quando começar. Hahaha.
- Dá para parar de tirar sarro? Eu posso falar? Que coisa.
- Pode. Vai, fala, Zé.
- Bom, esse tipo de pessoa, que eu ainda não expliquei, pede o seu número de telefone. Eu sei que é estranho esse jeito de contar, mas é que tem a ver o tipo da pessoa com o telefone. Precisa ter paciência para entender a graça da história.
- Tá.
- Daí você fala o número. Vamos supor que teu telefone é sete-cinco-dois, dois-um-dois-cinco.
- Tá. Meu telefone é sete-cinco-dois, dois-dois-um-cinco.
- Bom, daí essa pessoa, quando ouve o teu telefone, fala pra você assim: “sete-cinco-dois, dois-um-dois-cinco? Ah, que bárbaro! Nossa, é facílimo!”.
- Zé, mas sete-cinco-dois, dois-um-dois-cinco, não é facílimo nem aqui nem na china.
Ele morria de rir sozinho.
- Eu sei, claro que não é. Ai que está a graça, lú! Hahahahaha!
- Que graça?
- Perai que eu já acabo – ele tomou fôlego, mas segurava o riso – Daí, depois que essa pessoa fala que esse número é facílimo, ela vem e faz uma associação bem ridícula, bem absurda.
- Hã? Associação de que?
- Desse número com uma soma, uma conta, com uns aniversários, umas idades disparatadas. A pessoa vem e fala “sete e cinco, onze, onze é um mais um que é dois, depois dois mais dois mais um é cinco. Facílimo, já decorei!”. Entendeu?
Daí ele caiu na risada mesmo. Rolava de rir.
- Zé. Mas... Sete e cinco não é onze. É doze.
- Ah, tá. Mas isso não importa. Finge que o número era quatro, tanto faz - ele explicou, rindo.
- Qual número?
- Ô coisa, não importa o número geral, lú, importa é a pessoa que acha uma combinação absurda só para falar que é facílimo. Gente assim é muito comum, é irritante!
- Me perdi. Fala tudo de novo.
- Você não achou graça?
- Zé. A graça está na pessoa, no número ou na conta?
- No tipo de pessoa que faz associações, entende?
- Zé, nunca vi uma coisa tão complicada para se contar. E para se achar graça. Não vou conseguir.
- Não é não. Basta você fazer um diálogo legal. Essa história do número fácil e bárbaro de telefone é engraçada demais. Eu e o Fernandinho morremos de rir ontem.
- Você e o Fernandinho riem das coisas mais sem graça que tem. Eu acho que prefiro contar a história do omelete.
- Vai por mim, vai dar uma crônica ótima. Você começa assim... “ei, me dá seu número de telefone?” ...dai vem o outro e fala... “Meu telefone é sete-cinco-dois, dois-dois-um-cinco
- Zé, sete- quatro. Senão a conta dá errado.
- Tá, tá, sete-quatro...
- Okay, Zé, Okay. Amanhã eu escrevo. Prometo.

Olha, só de lembrar do Zé eu estou rindo. Gente, tentarei. Amanhã, aqui no frankamente... teremos a sensacional crônica desse tipo de pessoa que faz a maior associação para decorar os telefones. Tá?

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