sexta-feira, 26 de agosto de 2005

uma água, por favor.



Já experimentou pedir alguma bebida em restaurante ou balcão de bar? Se você não fala a longa lista de adjetivos antes do pedido, é imediatamente enterrado por uma avalanche de perguntas.
O Zé vive sempre esse martírio. Ele, antes de pedir qualquer bebida, pede uma "água". Uma garrafa de água, só isso. Ele gosta de beber apenas água antes da bebida. Parece tão simples, não? Mas não é. Ninguém acredita nele.
- O senhor quer o quê?
- Uma água.
- Gelada?
- Não, natural.
- Com gás?
- Não, obrigado.
- Gelo e limão?
- Não.
- Só limão?
- Não.
O garçom estranha. Não arreda pé dali.
- Só água mesmo, doutor?
- É.
- O senhor quer escolher a marca? São Lourenço, Prata, Minalba?
- Tanto faz.
O garçom sai arrasado. Parece impossível alguém não adjetivar uma água. É como se você fosse uma pessoa muito, mas muito sem graça.
Agora, o cúmulo da adjetivação que já vi acontecer foi num laboratório de análises aqui ao lado de casa. É, aquele lugar onde a gente faz os exames de sangue, lá mesmo. Acredite.
É assim: eles pedem que você venha de jejum e te dão um papelzinho que vale um lanche para depois que você faz o exame. Na saída tem uma lanchonete onde você pode tomar um café, comer um sanduíche, um biscoito. Você chega branco de fome e dá o vale lanche para a moça. É bem nessa hora que começa.
É de arrancar os cabelos. Ou melhor, de arrancar o sangue mesmo.
Você – Um café, por favor.
Moça – Café ou capuccino?
Você – Café.
Moça - Descafeinado ou normal?
Você - Descafeinado.
Moça - Com ou sem leite?
Você - Com leite.
Moça - Com ou sem espuma?
Você - Sem espuma.
Moça - Açúcar ou adoçante?
Você - Adoçante.
Passa um tempo e ela te olha de novo.
Moça – Bolacha?
Você – Sim.
Moça - Salgada ou doce?
Você - Hum. Doce.
Moça - Recheada ou sem recheio?
Você - Sem recheio.
Moça – Um pacotinho?
Você – Tá, dois.
Tempo. Ela arruma a bandeja e te olha mais uma vez. Impassível.
Moça – Suco ou água?
Você – Suco.
Moça - Maracujá ou uva?
Você - Maracujá.
Moça - Açúcar ou adoçante?
Você - Açúcar (nessa hora a gente já começa a falar qualquer coisa).
Moça - Gelado ou sem gelo?
Você - Gelado.
Lá vem ela com o suco. E a coisa continua.
Moça –Sanduíche?
Você – Sim.
Moça - Peito de peru ou queijo branco?
Você - Queijo branco.
Moça - Pão normal ou integral?
Você - Integral.
Moça - Um ou dois?
Você – Um.
Moça – Quer sal?
Você – Quero comer em paz, ô moça. Posso?
Se você ficar olhando, ela repete igualzinho com todo mundo, sem pular nenhuma opção. E naquele interrogatório laboratorial, se ela te perguntar lá no meio e bem rápido "sangue ou urina?", tenho certeza que todo mundo responde um dos dois, sem perceber.
Bem... só água sem nada que não dá, né? Chegar num bar e pedir água pura, sem nenhum dos três tradicionais “gs”, ou seja, "sem gás", "sem gelo" e “sem gim”, é demais, né? O Zé que me perdoe, isso não tem graça nenhuma.
São quatro “gs”: sem gás, sem gelo, sem gim e... sem graça.

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