terça-feira, 14 de junho de 2005

power... poing, zuing, toim, buzzz



- E ai, Zé? Foi boa a reunião com a construtora?
- Ichi. Horrível. Tinha até PowerPoint.
- Ah. Com som?
- É... - ele me explicou, desiludido - Um tal de zuimmm, roarrr, poing. Um cafonalha danana. Não dá para contratar essa construtora. Era meta que subia, objetivo que descia, desafio que crescia, tópico que corria. Um horror - ele desabafou.
Concordo com ele. Tenho vontade de esganar a pessoa que inventou esse negócio de apresentação em formato de PowerPoint. Ô coisa que atrapalha a vida da gente.
Antigamente as pessoas vinham fazer reunião ou apresentar um trabalho e simplesmente falavam. Ah, que saudade do bom e velho blá-blá-blá. No máximo traziam um projeto ou umas fotos pra ilustrar. Agora não. Tudo virou desculpa para usar PowerPoint. Basta marcar uma reunião que lá vem alguém com um laptop e pimba!
Lasca um PowerPoint todo cheio de gráfico, tópico, organograma, barulho de carro e foguete, e, no final, um presente: uma cópia em CD daquela maravilha da tecnologia moderna pra você.
As pessoas que trabalham em empresas são, todas, no fundo, muito bobas. Só porque a coisa é feita num computador todo mundo acha que é barbaro e que impressiona. Está certo que e muito bom poder usar imagens para ilustrar um bom discurso de venda ou de apresentação de projeto, mas daí para oficializar a coisa é demais. PowerPoint ajuda, mas também enche a paciência. Para assistir um PowerPoint temos que parar o que estamos falando, mudar todo mundo de cadeira, diminuir a luz e ficar parado em frente ao micro, olhando aquele filme repetido. Organograma, cronograma, metas, desafio, fotos, objetivos.
Argh, eu detesto PowerPoint.
De uns anos para cá, a coisa chegou até dentro da escola dos meus filhos. O que antes era uma reunião de pais e mestres com a professora explicando o que aconteceria durante o ano virou uma enorme apresentação de organogramas, cronogramas, metas, desafios e objetivos num enorme telão. Nem se vê mais a cara da professora na escuridão, apenas ouvimos uma vozinha tímida que explica os organogramas, as metas, os desafios e os objetivos... O que é muito maluco é que a maioria dos pais fica feliz, afinal, a escola do filho fala uma linguagem moderna, empresarial, comtemporânea, cheia de organogramas, metas, desafios, objetivos, blá, blá, blá...
Já tentei agregar alguns pais e conhecidos na minha campanha contra o PowerPoint (CCPP), sem sucesso. Aliás, as pessoas nem entendem o que eu critico. Me olham como se eu fosse louca.
Olha. Para mim isso é a maior caipirice. Boas idéias não precisam de apresentações prontas e nem de formatos pseudo tecnológicos. Geralmente por trás disso tudo está um enorme vazio profissional, pedagógico ou empresarial. Temos que tomar muito cuidado com esses atalhos. Como eu já disse uma vez, eu desconfio de tudo que não entendo para que serve.
Depois de muito falar mal do PowerPoint aqui em casa, o João, meu filho menor, me chamou, rindo.
- Maiê, vem ver uma coisa.
- Fala, Juca.
- Hehehe. Fiz um PowerPoint da minha vida de presente para você. Senta aqui. Chama-se “A vida de João”.
E assim, no meio dos zuimmms, dos bangs, dos roarrrs e dos poings, a vida do meu filho do seu nascimento até os 11 anos virou um hilário e maravilhoso... PowerPoint.

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