quinta-feira, 23 de junho de 2005

a gota d´água



Ontem uma leitora, a Márcia Lustosa, me desafiou a escrever sobre um pingo de água. Bom, uma gota d´água dá margem a muita crônica, não pense que não, Márcia. Primeiro que hoje em dia todo mundo vive com uma ridícula garrafinha de água na mesa, bebericando sem parar. Dizem que é para “hidratar” o corpo e a pele, mas acho que é apenas para fazer mais xixi, e sei lá porque é bom fazer tanto xixi nesse mundo contemporâneo.
Pelo sim, pelo não, minha garrafinha de xixi, ops, digo, de água, está aqui ao lado, sempre presente e perfeita.
Voltando aos pingos de água, eu, que cuido de obras, tenho o maior ouvido para pinga-pinga de torneira. Avemaria, como vazamento dá assunto. Falo deles todo santo dia. E ainda sobre a água, poderia falar sobre a metáfora do transbordamento, que é maravilhosa. A paixão transborda, a raiva transborda, a emoção transborda, a maternidade transborda, eu transbordo todo dia de saudade do meu filho mais velho que foi sozinho para Paris no sábado.
Mas já que é para falar sobre água, resolvi falar sobre uma coisa diferente e que me irrita muito. Homens desse mundo, prestem atenção. Darei aqui uma dica infalível a vocês. E de graça.
Frankamente...
Um aparte: acho que a Franka, um dia desses, podia montar um consultório sentimental masculino na net, que acham? Podia se chamar “fale frankamente”. Tem muito homem que paga anos de análise para perceber coisas que podem ser resolvidas em minutos por aqui. Apesar da horrível aparência de lagartixa preta (eu te mato, Pecus...), Franka tem sensibilidade com homens, entende os desejos femininos, não mente muito e confessa coisas inconfessáveis sobre o (aspas) universo feminino (aspas).
Ma vamos lá. Uma das coisas mais irritantes do mundo, meninos, é a água mineral sem gás.
Aquela aparente aparência neutra e imparcial da garrafinha de água, na ocasião errada, é capaz de fulminar, em segundos, casamentos, namoros ou casos. Quer coisa mais irritante que homem que pede "água mineral sem gás"?
Água mineral sem gás tem em qualquer canto do mundo. É a coisa mais carne de vaca do universo. Qualquer boteco vagabundo tem uma torneira, um filtro ou um copinho de água Poá. Se você não pode beber, ao menos complique. Peça um daqueles breguetes de suco de tomate que vem até com pimenta, ou uma coca cola sofisticada: light lemon com gelo e limão no copo alto. Nunca, em hipótese alguma, peça uma água sem gás na frente da mulher amada.
A questão não é a água em si, mas a situação. Imagine que você sai com seu marido, namorado, amante, lagartão, sei lá. Sentam-se os dois num restaurante, você toda arrumada, bacanona.
- Vão beber o quê? – pergunta o garçom.
- Querida, escolheu?
- Hummm... Um cálice de vinho – você decide, pronta para se embriagar com ele.
- E o senhor?
Ele hesita. Pensa em beber, mas lembra-se da maratona que vai correr no sábado. O personal aconselhou a evitar o álcool.
- Uma água. Sem gás, por favor.
Brochou? Eu brochei. Para mim, acabou a noite.
Dá licença, ô lagartão.
Um homem que pede, na tua frente, uma água mineral sem gás é o fim. Isso acaba com qualquer mulher. É como se você fosse a mulher mais comum e ordinária desse mundo. Pior que isso só se a água for sem gás e... sem gelo.
Aí, danou-se.
Água “sem gás” e “sem gelo” é dez vezes pior.Quer dizer que nem às bolinhas de gás você tem direito, que nem o barulhinho dos cubos te homenageiam. Um homem que faz isso deveria ser impedido de ter qualquer mulher.
- Garçon, para o meu lagartão traga uma água sem gás, sem gelo, sem gim e sem graça ne-nhu-ma. E para mim um copo de vinho com veneno, por favor. Prefiro a morte a brindar com ele.
Olha, a bebida que o seu homem pede deve ser compartilhada com você. Teu homem deve beber em tua homenagem. É como se ele brindasse tua existência, tua presença. Isso é tão importante, tão essencial. É quase inexplicável. Que mulher que não quer ser cortejada, embriagada, entorpecida, narcotizada, embebedada por amor? O fato de a bebida relaxar os ânimos e os músculos é apenas um disfarce para a real embriaguez de estar com alguém que a gente ama. É a cena. A fantasia. O sonho. O filme. A cafonice necessária. A pieguice inevitável.
Ô coisa boa beber um pouco apenas para dar a desculpa da bebida. Isso é essencial, estimulante e básico. Pedir uma água sem gás ao lado da mulher amada é a prova maior de desprezo do mundo. É a gota d´água.
Saibam: esse não é um homem, é um monstro; isso não é encontro, é pesadelo; e esse não é um namoro, um casamento ou um caso.
Era, rapazes.
Eeera...
Fui clara?

Nenhum comentário: