domingo, 29 de maio de 2005

a leitoinha - I



- Lú. Acorda.
- Fala, Zé.
- Bom dia.
- Oi. Bom dia.
- Tua amiga M. ligou agora.
- Você falou que eu estava dormindo?
- Falei. Mas ela conversou comigo.
- Conversou o quê?
- Ela falou que eles foram pra o interior e trouxeram um presente pra gente.
- Um presente?
- É. Uma leitoinha.
- Quê? Uma leitoa?
- É.
- Ai, ai... Viva?
- Não. Morta.
- Ufa.
- Nove quilos.
- Nove quilos?
- Congelada. Está lá no freezer deles. A gente tem que ir buscar hoje a noite, depois da parada gay.
- E vamos colocar onde?
- Aqui. No nosso freezer.
- Ichi. Tá meio lotado nosso freezer. Fiz compras ontem.
- Temos que dar um jeito. É um presente.
- Está limpa?
- Acho que sim.
- Tem cabeça?
- Tem.
- Vem com pele? Com pêlo?
- Acho que vem com pele. Sem pelo. Eu espero.
- E perna?
- Num sei. Deve ter coxa.
- Ai. Que medo.
- Medo, lú?
- Não é bem medo. É estranho, entende? Parece que a gente é índio canibal, Zé. Pensa. Um bicho enorme e morto aqui em casa, e a gente se preparando para comer. Tenho vontade de assar no quintal, numa fogueira, uma coisa mais rural, mais selvagem. Nada de fogão, de eletrodomésticos. Como se fosse um ritual.
- Legal, né?
- Você gostou, Zé?
- Nunca ganhei uma leitoa antes. Primeira vez.
- Nem eu.
- Tou adorando. Nossa primeira leitoinha, lú. Olha que legal. Vamos fazer em breve. Quantas pessoas será que dá pra chamar? Preciso procurar umas receitas...
Ele fez uma cara animada e saiu falando sozinho pela casa. Bom. Lá vamos nós fazer logo logo uma leitoa assada aqui em casa.
Quem tiver alguma dica para o meu primeiro ritual de iniciação à leitoa assada, agradeço.
(E obrigada, M.!)

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