quarta-feira, 18 de maio de 2005

chico, julinha, toíííno!



Saí do limbo.
Explico.
Toda mãe passa por fases terríveis. Tem a fase de não dormir à noite, tem a fase das birras, a fase das amigdalites e otites, tem a fase da adaptação na escola.
E tem a fase da vergonha da mãe.
Essa é a pior de todas, eu acho. Você, de líder absoluta, musa incomparável e deusa do universo passa a ser a mulher mais ridícula do mundo, mais gorda, mais velha e mais sem-graça de todas as mulheres. Se depender do teu filho, tua auto estima despenca lááá embaixo. Não adianta argumentar, ele não vai nem ouvir o que você fala. Para ele, a mãe e uma mala tamanho gigante são a mesma coisa. Aliás, pra quê falar, se você só fala idiotice? E pra quê você tem que ficar atrás dele?
Menos, mãe, menos.
Tudo bem que é uma fase, mas é frustrante. A vergonha vem junto com uma total indiferença, uma transparência que você nunca teve. Além do som do silêncio, a palavra que você mais ouve nessa fase é “toíno”. Isso mesmo. Meninos e meninas de 10 a 15 anos ignoram as mães e falam só “toíno” o tempo todo. Esse estranho verbo, “toinar”, define exatamente tudo nessa fase da adolescência. Significa que eles te ouviram muito bem, mas que, como te desprezam, não vão sair do lugar nem mortos para fazer o que você está pedindo.
- Filho, vem aqui.
- Toíno - a entonação do "toíno" deve ser a mais sem graça possìvel.
- Comprei aqui uma camiseta pra você. Depois você experimenta, tá?
Silêncio.
- Ouviu?
- Toíno, mãe.
- Filho. Está na hora do jantar.
- Toíno.
- Filho, sua avó tá aqui. Vem dar um oi pra ela.
- Toíno.
- Filho.
- Toíííno.
Mas gente, isso acaba. E comigo, pelo menos com o filho mais velho, acabou de acabar. Nesse domingo, tive a prova: fui redescoberta. Saí do limbo. Da obscuridade. Há luz no fim do túnel. Alegria!
O Chico tinha um encontro de jovens na escola. Não é coisa de religião e sim de filosofia, pelo que entendi. Como é obvio, ele não me explica muita coisa. O grupo de alunos passou um final de semana junto, houve palestras, debates, conversas. Quando tudo acabou, na tarde do domingo, ele me ligou.
- Mãe.
- Oi Chico. Ô saudade, meu filho. Três dias sem te ver.
- Vem me buscar? Mas tem que ser você.
- Eu?
- É, mãe, você. É que você está toda famosa aqui.
- Eu? Famosa?
- Sim, mãe. Todo mundo quer te conhecer.
- Eu? Os teus amigos querem me ver?
- Sim. A Júlia, minha amiga que entrou na faculdade de direito, aquela que tem blog e que escreve no teu blog, falou um montão de você ontem. Contou sobre as coisas que você escreve no blog, contou sobre tuas idéias, teus textos, contou que você ficou amiga dela assim, sem mais nem menos. Foi bárbaro. E eu falei um montão de você também. Daí ficou todo mundo querendo conhecer você ao vivo. Mega Deusa, você.
- Eeeeu...?
- Vem você me pegar. E sozinha. E rápido.
- Toíno, filho! Toíííno!
Bom, eu fui. Sério, até me arrumei antes de sair, atrapalhada. Que diabo de roupa a gente coloca para ser mostrada por um filho? Cheguei na escola, o Chico me abraçou. Me senti mínima, emocionada e confusa ao me ver abraçada à aquele meu rapaz já tão adulto, e sendo mostrada como uma preciosidade à uma turma de adolescentes e jovens. Obrigada, Chico. E muito, muito obrigada, Julinha. Acho que tudo tem a ver com esse democrático espaço, onde eu posso falar sobre tudo que me vem à cabeça.
E também tem a ver com o tempo, ah, esse bendito tempo, que passa como se fosse uma ventania, nos dando arrepios de emoção.
Beijos aos dois.

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