quarta-feira, 6 de abril de 2005

ursos e pizzas


Sentamos à mesa para jantar.
- Ah, não... – falou o Chico, olhando as travessas – De novo? Não agüento mais essas comidas daqui de casa.
- Que é que tem? Arroz, batata, carne. Você queria comer o que, Chico? – perguntei.
- Eu queria comer pizza. Porque nunca tem pizza nessa casa, droga? – e ele me olhou todo carinhoso – Manhê... pede uma pizza para mim?
- Não inventa, Chico. Tem a comida que a Maria fez, olha que delícia.
Ele cruzou os braços.
- Então eu não vou comer nada. Vou ficar aqui parado, esperando você pedir uma pizza – ele disse, fingindo que estava emburrado, imitando criança.
- Hahaha. Pode esperar até amanhecer... – eu olhei para a cara dele, brava – E você não parece que tem quinze anos, Chico. Parece parece que tem cinco. Ou menos.
Foi quando a Luciana interviu.
- Chico, cuidado com as coisas que você fala, viu? – ela disse – Tudo que é engraçado ou diferente a mamãe rouba, transforma e escreve uma crônica. No dia seguinte ta tudo lá no blog dela.
- Como que é? – eu perguntei – Eu... roubo?
Ela não se deu por vencida.
- Mãe, você sempre faz isso com a gente. Quer apostar como você vai amanhã escrever lá no blog um negócio enooorme sobre o Chico e a pizza, sempre fazendo umas comparações esdrúxulas com homens e animais, sempre falando de antigamente e de agora, toda engraçadinha? Você sempre começa a falar da gente e inventa umas teorias, sei lá, sobre a vida dos ursos ou coisa pior - ela me olhou séria - Mãe, você é o maior perigo.
- Eu?
- E eu vou te dizer mais uma coisa que está engasgada aqui há anos: eu sei muito bem o que é uma máquina de escrever, viu mãe? Morro de vergonha daquela crônica que você inventou que eu não sabia o que era uma máquina de escrever, e que o Mário Prata até publicou no jornal, no Estadão. Nunca mostrei para ninguém. Não fui eu que falei aquilo.
Fiquei completamente sem palavras diante da “bronca”.
- E... quem falou, Lu?
- Sei lá, mãe. Eu é que não fui.

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