sábado, 23 de abril de 2005

FRANKA E A CIDADE (de novo)


ô cidade bacana! (adoro esse lugar - morei mais de vinte anos quase ali...)

De novo, abro meus jornais O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo e lá vêm elas. As infinitas propagandas de lançamentos imobiliários que estão entupindo a cidade e germinando feito capim.
Não é implicância minha não. Tem alguma coisa errada.
Descobri que acontece um negócio bem estranho. Gente, presta atenção numa coisa. Repara no jeito que os investidores usam para anunciar a venda dos apartamentos. Eles acham que o que as pessoas mais querem no mundo é descansar. Hoje em dia tudo que está a venda para você morar vem com um relaxamento embutido.
Eu não agüento mais essa coisa de tanto lazer e relaxamento, parece que é só para isso que a gente vive, caramba!
É como se trabalhar fosse a coisa mais horrível do universo e as pessoas precisassem se internar diariamente em condomínios de luxo para sarar das doenças do trabalho. É como se apenas circular na cidade de São Paulo, seja para fazer compras, ir ao médico ou buscar os filhos na escola fosse um martírio horrível, um treco horroroso demais, e as pessoas precisassem chegar num oásis de lazer para compensar o sofrimento. Hoje mesmo tem no jornal um edifício com um Day Spa – você mora e faz tratamento para emagrecer. Daqui a pouco vamos ver propagandas de condomínios com hospital dentro. Ou com UTI! Não dou mais um ano para algum incorporador inventar que a cidade de São Paulo dá ataque cardíaco!
Tem alguma coisa errada. Beeem errada...
Porque o apelo da venda desses edifícios tem que ser esse? Será que ninguém vê que todos esses lançamentos estão denegrindo a imagem da cidade para vender mais? Eles simplesmente falam: a sua cidade é horrorosa, não há quem agüente morar nesse caos, e, assim sendo, venha se trancafiar dentro desse maravilhoso condomínio. Aliás, não estão denegrindo só a imagem da cidade. Estão denegrindo tudo que tem dentro da cidade: as ruas, as pessoas e até o trabalho da gente.
Depois tem esse negócio da janela e da vista. Você precisa morar numa ilha de lazer e ter vista para algum espaço verde. Repara também que basta existir uma única pracinha que, pimba, surgem uns setenta prédios em volta, olhando para ela. A pracinha não deve acreditar naquilo. São Paulo virou isso: um monte de espacinhos verdes rodeados de prédios enormes voltados para dentro do círculo. Pois então, percebam: além de nos dizerem que a nossa cidade é insuportável, ainda nos mandam olhar para outras coisas: olhe para as árvores, para a natureza.
É como se a cidade não valesse a pena, ô tadinha.
A cidade é bacana, gente. É como olhar para a sua casa depois que você construiu. Imagina você construir uma casa e depois passar o resto da vida míope, olhando um pequeno vasinho porque alguém falou mal da sua casa?
Cadê o orgulho?
Mas a gente não pode descansar e tirar férias, dona Lúcia?
Ah, claro que pode. Tanto lazer assim cansa para burro...

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