quarta-feira, 23 de março de 2005

o moço canino das casas bahia


au-au!

Para a gente, que mora no Brasil e vê TV todo dia, é uma coisa corriqueira sentar no sofá e dar de cara com aquele rapaz que faz a propaganda das casas Bahia.
- Quer pagar quanto? Corta preço!– ele repete sem parar pulando ao redor dos móveis, camas e eletrodomésticos lá das Casas Bahia – Quer pagar quanto? Liquidação corta preço! Quer pagar quanto? Corta preço!
O anúncio é rapidíssimo, os preços são colocados na tela ao mesmo tempo que o moço fala, e, quando você vê, puft, já acabou. Mas não se preocupe, depois quinze minutos lá está ele de novo. Chega, roda, pula, rodopia, fala sem parar e pergunta de novo com uma voz esganiçada:
- Quer pagar quanto? Corta preço! Quer pagar quanto?
É uma coisa irritante. O rapaz, chamado Juliano na vida real, fala rápido demais, corre rápido demais, mostra coisas demais, é agitado demais e grita fino demais. Azucrina a paz de qualquer família. Acho que é para dar a impressão de que, se a gente não correr como ele, os produtos da Casas Bahia vão acabar e a gente vai perder todas as ofertas. É truque de marketing dos mais bobos, na minha opinião, mas funciona mesmo. Eu mesma, por exemplo, que geralmente não gosto de fazer prestação e nem de comprar eletromésticos sempre fico tentada a comprar uma geladeira que o Juliano me mostra toda hora. Tão vendo? Aquilo hipnotiza.
Acho que as casas Bahia nunca mais serão esquecidas por causa da chatura do anúncio. E duvido que ele consiga um outro trabalho na TV na vida. Talvez as Casas Bahia tenha que aposentá-lo quando acabar a campanha, coitado. Fim de carreira pra ele, desgaste total da imagem.
Há meses que eu tento entender o quê, além do estilo da propaganda, mais me incomoda nesses anúncios das Casas Bahia. Cada vez que eu vejo a cara do Juliano eu penso uma coisa, encasquetada em frente à TV.
- Será que é porque ele fala muito rápido? – eu comentei com minha família.
- Não, não é isso. Acho que é porque ele é aflito e tenso e isso me deixa ligeiramente estressada - resolvi, outro dia.
- Já sei, é porque ele faz papel de idiota. Gente se fazendo de idiota me irrita - eu disse para os meninos semana passada.
- Será que é porque esse rapaz é meio efeminado? Enrustido? - perguntei para o Zé antes de ontem.
Mas ontem tive um clic.
E descobri o problema.
O problema da propaganda das Casas Bahia é que o apresentador não tem um comportamento humano, e sim um comportamento canino. Isso mesmo, senhores marqueteiros e publicitários. Canino, de cão, cachorro, au-au! A encenação daquele rapaz na propaganda é típicamente canina, pulando de móvel em móvel, arfando, cheirando a máquina de lavar, brincalhão, feliz da vida, ganhando seus trocados.
Um cachorrinho! Um au –au!
Parece que alguém jogou um osso para ele, ele sai para pegar, cheira uma cama, entra num armário, late, encontra a cachorrinha, pula no fogão, late de novo, pula na cama, acha o osso, traz abanando o rabo, aliás, só falta mesmo o rabo. E dá vontade de afagar o Juliano no final do anúncio, "isso, isso, bom menino, bom menino...".
Caramba, será que era isso mesmo que os publicitários queriam? Um cão propaganda?
Não entendo nada de propaganda além do básico. Mas agora me sinto na obrigação de falar com algum publicitário, para que os responsáveis sejam avisados do problema. E preciso urgente avisar o Juliano, gente. Que horror uma pessoa humana como ele ter uma imagem de cachorro.
E agora chega de filosofia que eu vou trabalhar bastante e depois ver minha tv.
- Quer pagar quanto? Au- Au!

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