segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

árvore manualógica desértica


uma das imagens do deserto de nazca


Descobri que uma das imagens do Deserto de Nazca, no Perú, é uma enorme árvore ao lado de uma enorme mão.
Eu não me atrevo a interpretar. Melhor deixar isso pros Deuses (depois que entrei no site do Kiefer, indicado pelo Betão, confesso que entreguei minha intuição aos meus Santos e que vou colocar aqui o que me der na telha).
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Quando era menina fui para o Perú, no trem da morte com uma mochila nas costas. Uma das cidades da viagem era Nazca e um dos passeios, o vôo sobre as linhas do deserto.
Era caro, e nós, estudantes, eramos pobres demais. Quando me lembro o que gastei na viagem todinha (algo em torno de 200 dólares), que durou dois meses e meio e que me levou até Lima, não acho que foi possível.
Se passávamos fome? Um pouco. Mas era para ser assim. Essa era a graça.
Nesse dia eu e a Silvia S., minha companheira de viagem, encasquetamos de voar sobre as linhas de Nazca. Tentamos ver da terra, de cima de uma montanha, mas não tinha graça nenhuma, não dava para ver nada.
A Silvia é obstinada e sabida, e resolveu que tínhamos que voar sobre o deserto. Assim fomos para o aeroporto para tentarmos um vôo barato. Ela foi barganhando aqui e ali, como se estivesse numa feira, até que um dos pilotos se encantou com ela e resolveu nos levar, interessadíssimo naquela "chica" falante e tagarela.
Quando vi o "veículo" que ia nos levar nas alturas, quase caí para trás. Digamos que era um teco-teco-fusca caindo aos pedaços, com dois bancos na frente e mais nada. Nem vidro nas janelas laterais existia. Sentamos: o piloto, a Silvia (grudada nele e em mim) e eu, colada na porta de ferro (que fechava com um arame enrolado, por falta de maçaneta).
Parecia incrível que aquela lata velha voasse, mas voou.
- Mira chica, las lineas! - berrava o piloto, babando na Silvia.
Bem, avistamos as linhas e eram maravilhosas mesmo. Mas como o piloto estava mais interessado em ver a Silvia do que nos mostrar as linhas, ele fazia as curvas sempre de modo que ela caísse sobre ele. O passeio passou a ficar confuso. Era curva demais, giro demais e até eu, que não enjôo quase nunca, começei a ficar tonta.
Depois de uns dez minutos de reviravoltas e apertos, a Silvia (que enjoava sempre) passou a ter enjôos de verdade, e o piloto, ao invés de querê-la por perto, passou a ter medo que ela vomitasse sobre ele. Parou de girar, parou de nos mandar "mirar las lineas" e voltou com seu calhambeque pro aeroporto rapidinho.
Eu achei bonito o passeio, embora curtinho. Já a Silvia, tonta, enjoada e irritada, saiu brava do avião teco-teco, disse que não viu linha nenhuma e que detestou o passeio.
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Agora, vinte e tantos anos depois, voltam as mãos, as árvores e essa imagem do deserto.
E por onde você anda, Silvia?

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