sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

A HETEROCAMA


uma heterocama

Passei a manhã toda procurando camas para um cliente.
Eu tinha que achar duas bicamas e dois beliches de um certo tamanho, uma certa madeira, de um certo preço e com uma certa data de entrega. Sai zanzando por São Paulo, época pior não existe, dezembro, chuva, trânsito, pessoas desesperadas, enlouquecidas, taradas, sei lá.
Eu no meio das compras natalinas por conta das tais bicamas.
- Vocês tem bicama? E beliche?
- Tem bicama aqui? Posso ver?
- Alô, oi moça. Estou procurando bicamas. Tem?
Depois de umas vinte lojas, eu não agüentava mais falar aquilo. Sabe quando a gente fala muito uma palavra e ela perde o sentido? Depois de dois dias repetindo “bicama, bicama, bicama” eu comecei a estranhar.
Bicama?
Palavrinha mais feia essa.
Hoje entendi porque ela me incomoda. Bicama parece uma opção sexual de cama, entende? Bicama parece um móvel erótico, ou uma cama para bisexuais.
Bicama.
Heterocama.
Homocama.
Eu, hein.
Cada uma que passa na cabeça da gente. Acho que é culpa do clima de natal.

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